quinta-feira, 25 de junho de 2009

PERENES SOMOS NÓS



















Hoje passei o dia todo sem computador. Um desses "bugs" inexplicáveis deixou as minhas janelas fechadas, cerradas, mudas e veladas. Labutei, labutei horas a fim para recuperar o conteúdo de meu disco rígido, e finalmente, com um pouco de sorte, consegui. Fiquei portanto muitas horas fora do "mundo". A primeira coisa que me chamou a atenção quando conectei-me novamente foi a manchete da morte da ex-pantera, Farrah Fawcett Majors. Imediatamente fui mentalmente transportado de volta aos anos 70 - aos meus anos 70 - já que cada um de nós constrói íntimamente uma galeria única, subjetiva de seu passado e dos fatos significantes que o formam. Outro dia mesmo comentei sobre a morte de David Carradine, o astro que fazia uma popularíssima série de TV, Kung Fu. As panteras também eram daquela época, importante para mim e para tantos outros de minha geração. Tantas coisas daquela época imprimiram uma marca definitiva da minha formação como homem e cidadão. A ditadura (ou ditabranda, segundos alguns) que para mim era um fato concreto mas distante, como se vivenciá-lo "in loco", não tendo referências de viver sob outro regime ou circunstâncias, fosse apenas uma circunstância acidental. Lembro-me do Brasil potência, dos ufanismos tipo "Ame-o ou deixe-o", da construção de Itaipu, da Transamazônica, das corridas de Formula Super Ve em Interlagos, da ascenção, glória e ocaso da carreira de Emerson Fittipaldi na Formula 1, do tri da seleção no México, do fiasco da mesma na Alemanha em 1974, do "polivalente" e à frente de seu tempo Cláudio Coutinho, técnico da seleção da Copa de 1978, devidamente "roubada" pelos hermanos argentinos em seu território e em sua versão (pior e mais cruel) de ditadura sul-americana. Lembro-me de tantas coisas, como se um filme passasse em minha mente. Das propagandas de TV, do surgimento da TV colorida, das roupas hoje exquisitas, da geração Disco. Lembro-me também de um negrinho talentoso e carismático que cantava com seus irmãos num grupo chamado Jackson Five, trilha sonora de tantos bailinhos caseiros onde embalávamos nosso romantismo e nossos sonhos. Esse negrinho cresceu, embranqueceu, virou super Star, passou do nível humano para o de mito, teve atribulações mil, cheguei a vê-lo ao vivo nos anos 80 na Europa. Todas essas metamorfoses não ofuscaram seu talento e sua musicalidade, mas amplificaram de maneira dramática seu apelo em busca de algum sentido. Seu desespero era latente e aparente e sua trajetória foi se tornando uma tragédia em tempo real, um rei nu e desesperado, despedaçando-se em frente ao mundo e em prol do mito que talvez jamais tenha querido ser. Este mito vai continuar por muito, muito tempo. A vida daquele menino dos anos 70 encerrou-se hoje. Michael Jackson, humano como nós, perene afinal, sucumbiu à sua própria lenda e deixa a terra, entrando na galáxia daqueles que desaparecem no auge. Elvis, Lennon, James Dean, Senna - símbolo maior para nós brasileiros. Que descanse em paz, Michael. Você nos deu muito, obrigado!

Nenhum comentário: