segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

APÓS UM LONGO E TENEBROSO INVERNO, VOLTO A POSTAR

Pretendo aos poucos ir retomando meu ritmo neste espaço aqui, que tanto gosto. O ano foi terrível e devo pedir desculpas aos meus escassos amigos/seguidores. Em férias na escola, vamos tentar manter uma média decente de postagens, se não diárias, semanais. Abraço. Ah, a propósito, começo com estes vídeos do Jim Clark que encontrei no youtube, que são um deleite para alguém na minha faixa, etária, pois para nós, Jim Clark, Graham Hill, Dan Gurney, Jackie Stewart e os outros craques eram apenas fotos em preto e branco nas páginas da Autoesporte ou da Quatro Rodas. Vê-los correr, dar entrevistas, sentir a atmosfera mágica daqueles anos sessenta, não tem preço!

sábado, 6 de outubro de 2012

O outro cara!



Tenho que ser muito subjetivo aqui: vou buscar nos recantos da minha memória a magia daqueles anos que eram inocentes e prometiam muito. O Brasil era o país do futuro e era bom acreditarmos naquilo, pois o presente de então era bem básico mesmo.  Os generais estavam no poder, a imprensa era restrita (lembra algo?), as estradas péssimas, havia muito por fazer em todos os campos.
Na área esportiva, havíamos ganhado há pouco o tricampeonato de futebol no México, evento supervalorizado pela então incipiente Rede Globo e demais veículos de comunicação. Tínhamos um tenista razoável em nível mundial (Thomas Koch),  conquistávamos duas ou três medalhas de bronze nas Olimpíadas, vôlei era apenas uma miragem distantes, e o basquete masculino já havia passado de seu zênite.
Eis que surge, do nada, de quase combustão espontânea um jovem paulistano e se sagra campeão mundial de Formula 1: Emerson Fittipaldi! A glória de Emerson, sua natural habilidade midiática e as dimensões realmente heroicas de seu feito (mais tarde feitos) devem mesmo ser enaltecidas. Mas eu estou aqui para falar de outro cara. O outro cara.
Eu era fã de carteirinha do Emerson, aliás, ainda sou. Ele brilhava intensamente, conquistando vitórias e legiões de seguidores. Então, na esteira deste sucesso surgiram dois escudeiros: seu irmão Wilsinho, excelente piloto, nunca devidamente valorizado e o Moco!
Numa época em que se valorizavam estrangeirismos e nomes pomposos, o “superbrasileiro José (há nome mais tupiniquim que este?). Eu acompanhava a carreira do Moco desde os tempos em que corria de Karman Guia pela equipe Dacon. Ele sempre tímido e reservado, colecionava inúmeras vitórias e boas colocações. De jeito retraído socialmente, era um leão por trás do volante, sempre agressivo e veloz. Eu sinceramente, nunca achei que aquele cara quietão, meio gorducho iria correr na Europa e muito menos, ter o sucesso que teve.
Comecei a notar o Moco mais atentamente quando ele se sagrou campeão de um dos torneios de Formula 3 britânicos, logo em sua primeira tentativa. “Nada mal, pensei”.  Ele e Wilsinho e outros tantos rumaram para a velha Inglaterra para tentar um lugar ao sol (meio contraditório, já que por aquelas bandas o sol é escasso). Fritz Jordan, Luizinho Pereira Bueno (saudoso Peroba), Chiquinho Lameirão, Giu Ferreira, Lian Duarte e muitos mais....
Mas Pace, mesmo em sua humildade, era um piloto diferenciado. Logo chamou a atenção de gente mais qualificada e foi guindado, junto com Wilsinho, para a Formula 2. Uma escolha infeliz de equipe (Pigmee) não mascarou seu talento abundante e já no ano seguinte, 1972, ano da glória de Emerson, ele e Wilsinho ascenderam à categoria máxima, em condições muito mais modestas. Wilsinho pegou uma terceira e velha Brabham, então uma equipe intermediária, com um decadente Graham Hill e um ambicioso e bem financiado Carlos Reutemann como companheiros de equipe.
Já Moco, coitado, foi para uma equipe que se tornaria grande nas décadas seguintes, a Williams, mas que estava em fase inicial e com pequenos patrocínios, com carros velhos e defasados, e pior, que quebravam a um olhar mais duro. Um ano difícil e que, no entanto trouxe alguns pontinhos, muito mais difíceis de obter naquela época onde apenas os seis primeiros pontuavam. Dali, em 1973 foi para equipe do irascível John Surtees, onde penou para acertar um carro veloz, mas que quebrava muito e tinha pneus pouco competitivos. Cansado de sofrer com a personalidade difícil do “Big John’, Moco foi finalmente contratado pela equipe Brabham, já sem Wilsinho (que estava a construir o Copersucar no Brasil) e Hill”. A equipe era toda voltada em torno de Carlos Reutemann, já um piloto vencedor e uma personalidade também difícil.
Com sua atitude franca e honesta, não demorou muito para Pace conquistar a afeição e o respeito dos mecânicos e os bons resultados não tardaram a aparecer. Seu momento de glória foi, claro, no GP do Brasil de 1975, onde conquistou sua primeira e única vitória na Formula 1 defronte sua plateia caseira, em Interlagos, e ainda por cima, com dobradinha com Emerson em segundo. O ano trouxe mais resultados excelentes e já era evidente que apesar de Reutemann estar há mais tempo na equipe, Pace era mais querido e mais veloz. Quando Bernie Ecclestone fez a besteira de assinar um contrato de fornecimento de motores com a Alfa Romeo  em 76, Reutemann, desanimado com os parcos resultados, abandonou o barco e  foi correr na Ferrari, após o acidente de Lauda em Nurburgring. Pace encarou o enorme desafio de liderar a equipe, o desenvolvimento do novo motor e principalmente, manter a motivação em alta. Num esporte de alto nível, a parte psicológica é fundamental para a obtenção de sucesso.
Apesar de ser um superstar, bem pago, primeiro piloto de uma das grandes equipes de Formula 1, Pace nunca deixou de ser o “Moco”, leal aos seus amigos de sempre, e principalmente, muito competitivo como piloto em qualquer tipo de carro. Correu pela Ferrari no mundial de marcas, obtendo uma histórica segunda colocação na prova 24 Horas de Le Mans em 1973 ao lado de Arturo Merzario. Voltava com frequência ao Brasil e aqui competiu contra os melhores, e venceu, em carros iguais, os inesquecíveis Maverick V8, preparados pelo velho amigo  Greco. Piloto de Formula 1, estrela, bem pago, era no entanto aqui no meio dos seus que ele se sentia mais feliz.
Quis o destino em seus inexplicáveis desígnios, que nosso Moco partisse em maio de 1977, quando finalmente o pesado Brabham Alfa que ele penosamente desenvolveu ao longo da temporada de 1976, estava em ponto de bala. Moco faleceu num acidente de avião, junto com seu amigo de longa data Marivaldo Fernandes. Deixou viúva a bela Elda e os filhos pequenos Patrícia e Rodrigo. Viveu pouco, mas foi feliz e deixou a marca do talento, da humildade e da lealdade a seus amigos. As novas gerações teriam muito a se beneficiar em mirar em exemplos como os dele. Hoje seria seu aniversário.....e lá do céu, observando os filhos e a nova netinha Francisca, Moco certamente estará orgulhoso de um legado honrado e vitorioso que nos deixou!

domingo, 8 de julho de 2012

DOMINGUEIRAS


Puta preguiça de escrever uma análise detalhada e coerente sobre a corrida de hoje na Inglaterra. Vou fazer então uma breve resenha para não desapontar ainda mais os amigos que me cobram uma opinião. O canguru papudo (que a bem da verdade anda bem menos papudo nestes dias) fez um corridão, e quietinho, quietinho, faz um belo campeonato. Parece mesmo que a Red Bull achou uns décimos a mais em seus bólidos e a concorrência que se cuide. Alonso fez a sua costumeira apresentação de gala, com direito a pole position e tudo, mas desta vez as borrachas da Pirelli não o ajudaram. Em terceiro lugar, Sebastian Vettel correu com um campeão, fazendo pontos importantes que podem ajudá-lo o terceiro título consecutivo. Após o azar que o acometeu na Espanha, melhor garantir uns pontinhos e reagrupar as tropas. O quarto lugar de Felipe Massa foi o seu melhor resultado em um longo tempo e a corrida do baixinho brasileiro foi boa, considerando a nova fase de reconstrução de autoconfiança. O quinto lugar de Kimi Raikkonen foi um bom resultado, mas talvez tenha ficado um gostinho de "podia mais" já que os Lotus demonstraram boa adaptação à pista inglesa. Em sexto, Romain Grosjean fez grande prova de recuperação, após ter sido atingido bem no inicio da prova e ter que parar para fazer reparos no carro. Em sétimo e oitavo lugares, dois campeões mundiais, Schummy e Hamilton. A Mclaren parece ter pedido um pouco o ritmo ultimamente e seu outro piloto, o também campeão Jenson Button andou no meio do pelotão e terminou num discretissimo décimo lugar. Em nono, o outro brasileiro, Bruno Senna que fez uma apresentação burocrática, ao contrário de seu companheiro de equipe, Pastor Maldonado, que mais uma vez se envolveu em polêmica, batendo de forma besta no Sergio Perez que prometia fazer uma bela apresentação com sua Sauber. E foi mais ou menos isso. Hulkenberg vinha bem, mas perdeu rendimento no final, seu team mate Paul di Resta, correndo em casa, ficou de fora logo no início. Japonês voador, Koba San, também não teve boa apresentação, anda devendo a seus fãs.
Tirando isso teve o título do Corinthians na Libertadores no meio da semana, exaustivamente comentado pr ai e a luta do tal de Spider com o tal de Sonnen, assunto este que me abstenho a comentar, pois não o considero mais esporte que briga de galos e como não gosto de galos e muito menos de brigas....

terça-feira, 3 de julho de 2012

LONG TIME AWAY



É, preciso mesmo pedir desculpas aos meus poucos leitores. Acreditem, eles existem! Ou melhor, vocês existem! Andei por aí, preocupado com outras coisas, bastante trabalho, um tanto de preguiça, facebook também. Mas agora prometo pegar firme por aqui, afinal, julho é mes de férias nas escolas e vida de professor fica um pouco mais sossegada. A comentar de passagem, o incrível campeonato mundial de Formula 1, com corridas para lá de movimentadas e sete vencedores diferentes nas sete primeiras provas. Apenas o piloto que está um ombro acima de seus contemporâneos, Fernando Alonso, conseguiu repetir uma vitória e isto na oitava prova do certame e com um carro que não tem nada de extraordinário. Apenas a pecinha que vai atrás do volante....rs.
Os dois pilotos brasileiros não vão bem e estão em fases distintamente complicadas frente aos seus respectivos companheiros de equipe. Bruno Senna até começou bem razoavelmente o campeonato, mas a inesperada vitória de seu "team mate" Pastor Maldonado na Espanha, colocou em perspectiva suas atuações e não o ajudou nada na comparação direta com o venezuelano. Já Felipe Massa, além dos desempenhos para lá de acanhados, ainda tem na sua escuderia simplesmente o melhor piloto em atividade. Digo e repito: após o acidente na Hungria em 2010, Massa jamais recuperou a boa forma.
Esta semana teremos GP na meca, Silverstone, e o campeonato está bem aberto, se  bem que parece que a equipe Red Bull está um passinho a frente de seus rivais mais diretos. Sebastian Vettel que teve muito azar na ultima prova, está na disputa assim como as Mclarens e Alonso. Veremos! Volto logo.

terça-feira, 5 de junho de 2012

REPOST: A CORRIDA NO CÉU




Mesmo sendo Deus, Ele se aborrece ás vezes. O universo em toda sua grandeza estava chato demais para entretê-lo. Pensou, pensou, coçou a cabeça e chamou um de seus

auxiliares, o indefectível São Pedro.

“Pedro, aproxime-se. Que marasmo está este Céu. Quero que organize algo para me entreter”.

“Mas senhor... o que posso fazer para ajudá-lo? Já organizamos safáris, olimpíadas, torneios circenses. Trouxemos os melhores cantores clássicos, de ópera, bailarinos, até mesmo algumas escolas de samba. Diga-me Senhor... o que falta?”

“Pedro, você é pago para isso. Vamos, se vire. Com tantos problemas na Terra, estou mesmo precisando de algo que me entretenha.”

Pedro ia mencionar que os seus salários jamais haviam sido pagos, mas como no Céu não há Justiça do Trabalho ou coisa similar, preferiu calar-se. Havia os benefícios que talvez não encontrasse em outro emprego. Enfim, Pedro pôs-se a pensar. Nesse momento passou por ele Cristovão, santo bonachão e que sempre flanava perto da cantina do Céu, pois era comilão e sabia que coisas boas estavam saindo do forno a qualquer hora.

“Cris venha aqui. O Mestre está aborrecido e isto não é bom. Você bem sabe que quando ele se zanga quem paga o pato somos nós.”

“Não me diga, Pedrão. Não me diga. Em que posso ajudá-lo?”

“Ele me pediu para organizar algo para distraí-lo, entretê-lo, mas estou sem idéias. O que sugere?

“Hummm. Deixe-me pensar. O duro é que quando estou de estômago vazio, penso muito mal” a frase saiu com um tímido sorrisinho de canto de boca. Percebendo a deixa, Pedro chamou o amigo e colega de Santidade para dentro da cafeteria. Pediram cafés fumegantes e bolinhos divinos (não poderiam ser diferentes). O apetite de Cristovão era lendário e ele não se fez de rogado: traçou dúzias de iguarias e bebeu jarras de café e chocolate quente, deixando mesmo um pouco a escorrer pelas longas barbas grisalhas.

“Já sei: tenho uma idéia!”

“Diga logo, estou ansioso,” retrucou o pobre Pedro. Cristovão ainda ordenou uns quitutes á titulo de “saideiras”, antes de limpar a garganta e dizer:

“Vamos organizar uma corrida de carros aqui no Céu. Um autêntico Grande Prêmio, como nunca se viu na Terra!”

“Sei não. Acha uma boa idéia? Não é perigoso?”

“Perigoso, Pedro? Esqueceu que aqui é o Céu? E que muitos dos pilotos que aqui estão, correram e pagaram os riscos com suas respectivas vidas?”

“Olha. Eu não entendo muito disso. Você pode me ajudar? Mas antes vou perguntar ao Senhor, o que ele pensa da idéia. Venha comigo.”

Entraram nos aposentos divinos com muito cuidado, como sempre faziam. Uns anjos dormitavam e nem notaram a passagem dos dois Santos. Deus cochilava, com uma copia gasta da “Divina Comedia” de Dante, que ele lera e relera milhares de vezes. Um conservador, esse Deus.

“Diga-me Pedro. Olá Cristovão. A propósito, você esta engordando. Têm algo em mente?”

Pedro adiantou-se, sempre tinha a sensação de perder a fala ao dirigir-se ao Mestre. Por mais eternidades que passasse servindo-O, isso não mudava.

“Sim, Senhor. Cristóvão sugeriu uma corrida de carros. Temos os melhores pilotos aqui em cima, é só uma questão de ajustar detalhes.”

“Esplêndida idéia! Mas preste atenção: não quero o Balestre envolvido nisso. Sei que ele subiu há pouco, deixe aquele francês narigudo fora disso.”

“Ótimo Senhor. Organizaremos tudo.”

“Outra coisa. Quero a corrida numa reprodução fiel do circuito de Nurburgring. E quero todos os pilotos com um mesmo modelo de carro. Pode ser o Maserati 250F. Chamem-me de saudosista se quiserem.”

“Sim Senhor.”

***



Pedro contou com a colaboração de Cristovão e de outros Santos que gostavam de corridas. No Céu, as dimensões de tempo são diferentes, então tudo pode ser feito rapidamente. Começaram a convocar os pilotos. Nuvolari foi logo lembrado e ficou muito feliz, pois estava a muito coçando o saco e bebendo Lambrusco. O pequeno mantuano se dispôs a ajudar a convidar os colegas. Fangio foi facilmente convencido, assim como Ascari. Farina se apresentou, e sendo advogado queria saber do regulamento aprovado. Fagiolli e Rosier ficaram excitados, mas Cristovão lhes disse que apenas campeões mundiais poderiam participar, eles ficariam na reserva. Indignados, pois achavam que as regras terrenas eram injustas, mesmo assim, se ofereceram para colaborar. Gonzáles que ainda não morreu, recebeu uma mensagem num sonho, em sua Argentina e ficou com vontade de morrer, mas também não foi campeão, então ficou na vontade mesmo. Hawthorn, que bebericava o chá das cinco, ficou muito feliz em poder participar. Trintgnant, Musso e Bira mordiam os lábios de vontade, mas tampouco foram campeões. Moss foi outro que ainda não morreu e ficou sabendo da tal corrida. Foi á sua muito britânica paróquia conversar com Deus em particular e pediu para subir. Não foi atendido, pois ainda tem um tempinho por aqui, segundo o Manda-Chuva. (não, São Pedro não é o verdadeiro Manda-Chuva, ele apenas é o encarregado do departamento Hídrico do Céu).

O alvoroço era geral. O Príncipe Rainier e a belíssima Grace Kelly, ou princesa Grace se ofereceram para entregar o Troféu. Phil Hill que morreu a pouco mais de um ano, ainda perdido pelos labirintos do Céu, modestamente declinou a oferta, dizendo ter sido campeão por obra e graça da morte de seu então companheiro Von Tripps. Este, entre muitos goles de cerveja da Bavária, se disse lisonjeado, mas fora de forma. Acho que não queria encontrar-se na pista com Clark, mais uma vez. Jim Clark, pastoreando ovelhas e feliz com isso, ficou surpreso pelo convite. Em sua modéstia, apurada do outro lado, achou que não merecia ser convidado! Bruce McLaren andou sendo cogitado, afinal foi vice, mas disse que prefere ficar nos boxes. Brabham está firme na Austrália, perdeu o trem para cima algumas vezes e não tem pressa em chegar. Graham Hill, fazendo imitações para um canal de TV no Céu, adorando sua nova profissão, ficou muito feliz com o convite. John Surtees quis trocar de lugar com seu filho Henry, mas Deus não concordou. O menino vai assistir dos boxes, no entanto. Bandini e Pedro Rodrigues se ofereceram para testar e aquecer os carros e Jô Siffert quer trabalhar nos boxes. Scarfiotti vai ser bandeirinha, e Rindt achou a idéia ótima, está louco para correr. Denny Hulme não tem certeza, mas como campeão vai participar. Sente que McLaren merecia mais e sente saudades de Brabham. Bom sujeito o urso. Johnny Servoz Gavin e Lucien Bianchi querem ajudar na cronometragem assim como Jô Bonnier.

Clay Regazzoni anda furioso por aqueles três pontinhos que o privaram de ser campeão em 1974, mas disse que está disposto a ajudar. François Cevert e Elio de Angelis vão tocar piano na recepção depois da corrida e ambos deixam as mulheres do Céu em polvorosa! Mark Donohue é outro que quer ajudar de qualquer maneira, assim como Peter Revson, bronzeado como se estivesse em férias eternas no Hawai. Mike Hailwood brinca com todos e sua careca reluzente é motivo de piadas. Ronnie Peterson anda nervoso de um lado para outro, desejando não ter sido tão cavalheiro em 1978, quando ajudou Andretti a ganhar um titulo que facilmente poderia ter sido seu. Carlos Pace está por ali também, cansado de não fazer nada no Céu, animado conversando com seus grandes amigos Luiz Antonio Grecco e Marivaldo Fernandes. James Hunt com uma latinha de cerveja (proibida no Céu) nas mãos chega de mansinho, com um sorriso largo no rosto bronzeado. Patrick Depailler e Tom Pryce, acompanhados de Roger Willianson, David Purley e Tony Brise querem ajudar também. Gilles Villeneuve chega meio avoado, querendo participar de qualquer jeito e fica feliz ao saber que alguns vice campeões serão convidados também. Didier Pironi se anima, também quer muito correr. Alboreto, também vice, fica feliz e quer uma oportunidade na corrida.

Neste momento, chega Ayrton Senna, ciente de que seu lugar na corrida está seguro, e torcendo para chover. Muitos outros pilotos estão ali, desde que os boatos sobre a prova se espalharam. No Céu tudo é possível e como num passe de mágica, uma perfeita replica do velho circuito de Nurburgring aparece. Lindo, limpinho, todas as guias pintadas, os boxes tinindo e os vinte Maseratis 250F, vermelhos, alinhados lado a lado. Cada um traz o nome de seu piloto na carenagem e a curiosidade da multidão que se aproxima é crescente.

A platéia é enorme e os pilotos vão ter oportunidade de treinar para se acostumar com os carros e com a pista. O carro numero 1 traz o nome de Fangio e ele conhece bem a maquina, já correu e venceu com uma. Nuvolari carrega o número dois e seu assento tem uma pequena almofada dada sua pequena estatura. O homenzinho é minúsculo, mas atrás de um volante transforma-se num gigante! Farina tem o três e Ascari o quatro. Sendo italiano já começa a reclamar de algo, mas eu me afasto pois estou curioso para ver o resto do grid. Hawthorn vai de cinco e o seis está com Phil Hill. O sete é de Clark e todos o olham com respeito; o oito pertence a Graham Hill. Denny Hulme traz o número nove pintado abaixo de seu nome e olha o carro com curiosidade. O dez é de Pelé, mas esse foi um erro, trocaram os esportes, as bolas, e depois de um bom sermão no Santo responsável pela mancada, apagaram o nome do “Rei” e colocaram o de Rindt. Onze foi para Hunt e doze vai para Senna. O treze que no Céu não quer dizer nada ficou para McLaren, quer preferia ficar como engenheiro de pista. Clay Regazzoni, muito animado vai alinhar com o numero catorze e o quinze será de Ronnie Peterson. Um eufórico Villeneuve recebe o dezesseis, e seu desafeto Pironi o dezessete. Na verdade, eles já fizeram as pazes faz tempo, um dos gêmeos de Didier chama-se Gilles. Alboreto é o dezoito e um surpreso de Angelis recebe o dezenove. O vinte fica para Depailler e ninguém reclama. Reservas Siffert, Rodriguez e Gunnar Nilsson, que chegou agora.

continua - Os treinos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

REPOST: CONTINUANDO A SAGA



Amigos, eu fui mexer no vespeiro e agora saí picado! Comecei lá atrás uma despretensiosa seçãozinha “Cezar Fittipaldi – carreira de piloto na Inglaterra” onde narro minhas (des)venturas na Ilha de Sua Majestade, pelos anos 80, em busca de um lugar ao sol. Que fui fazer? Santo Deus, buscar o sol num lugar que só chove? Oras....

Bom, percebi que a seção estava engolindo o blog, e dei um tranco nela. Mandei largar de ser metida, ficar na sua, que o blog era para outras coisas: fazer amigos, palpitar, opinar, trocar experiências. Que esta seçãozinha não se metesse a besta comigo! Mas não tem jeito, volta e meia alguém me manda um e-mail reclamando da falta de atualização. O último foi o amigo André Canário, que cantou: poxa, Cezar, entro todos os dias no blog e nada de atualização!


Bem, bem, regressamos ao ano da glória de 1984 – título aliás do ótimo livro do George Orwell, que inspirou a expressão “Big Brother”. O Wham! Do George Michael e Andrew Ridgley estava surgindo com “Careless Whisper”, tínhamos Duran Duran, as lindas moçoilas do Bananarama, Frankie Goes to Hollywood, com Reflex, Sheena Easton. Muitas memórias. Frio, lareira, trabalhando em dois lugares. Dono de um carro de corrida, um trailler, dois motores, um monte de peças de reposição inúteis e pagando caro pelo privilégio de usar uma garagem dentro do circuito de Brands Hatch, a cerca de 35 minutos de carro de minha casa.

Resolvi procurar outro lugar e como sempre, nos classificados da Autosport achei. Que azar! O cara se chamava Keith alguma coisa, tinha uma oficina num bairro do sul de Londres que se chama Elephant & Castle. Cara de pinguço, oficina grande e desorganizada, no entanto tinha ótimos resultados: havia feito o “running” (preparação) de pilotos como Rob Wilson (neozelandês gente boa, mistura de músico de rock e piloto, que chegou a Formula 2) e Johnny Dumfries, além de outros menos conhecidos. Combinei com ele que ele faria a manutenção do carro, além de abrir e verificar o estado dos meus dois motores. Transportei toda a minha tralha para a oficina do cara e fiquei muito feliz, pois o acordo financeiro era bem razoável.

Foi aí que começou meu calvário. Eu ligava toda semana, com esperanças de participar de algumas provas ainda no primeiro semestre de 84, e sempre ouvia a mesma desculpa: o Keith estava muito ocupado e não tivera tempo de trabalhar no meu carro, ou motores. Que droga! Quando podia eu ia assistir ás corridas em Brands Hatch e ficava morrendo de inveja daqueles que podiam competir. Eu tinha carro, mesmo velho, era meu, e muita vontade, mas as circunstâncias não ajudavam. Para piorar, como eu não tinha grana, não podia pressionar muito o infeliz. Nessa altura fiz uma certa amizade com o Johnny Dumfries, que dois anos depois foi o companheiro de Ayrton Senna na equipe Lótus. O cara é o Barão de Dumfries, um lugar na Escócia, e tem muita grana, mas era a simplicidade em pessoa, no modo de falar, no modo de vestir-se. Pagamos boas cervejas um ao outro!

Nessa altura, desolado e para baixo, recebo um telefonema deveras estranho. Um sujeito (não me lembro o nome, mas ainda tenho o cartão dele em algum lugar) se dizendo executivo de uma agência de publicidade que representava a Talbot, queria falar comigo. Não adiantou muito o assunto, mas disse tratar-se de algo relacionado à moribunda Formula Talbot – categoria de monopostos, movidos a etanol, que na altura tinha apenas 6 ou 7 carros no grid. Eles queriam resgatar a categoria. Ótimo! Marcamos uma reunião e eu fui. No interior, lugar lindo, digno de filme de James Bond, uma espécie de castelo, com aquele pátio de cascalhos na frente e uma loira espetacular na recepção. As aparências enganam.....


continua

quinta-feira, 24 de maio de 2012

REPOST: NA ESTRADA




O ano de 1983 apresentava-se a mim com o seguinte aspecto: havia saído de minha Ourinhos natal no início de 1980 diposto a correr de automóveis na Inglaterra, sem experiência alguma (nem em kart), quase sem grana e literalmente, sem lenço e nem documento. Dei muita sorte em conhecer pessoas que me ajudaram e com menos de três meses de Londres, já estava trabalhando legalizado num departamento da ONU - IMO. Juntei um dinheirinho e fui fazer a escola de pilotagem internacionalmente famosa "Jim Russell", com resultados animadores. O ano de 1981 me trouxe algumas decepções, pois aluguei carros de Formula Ford para algumas corridas, mas sem treino e sem conhecer os circuitos, além dos carros serem verdadeiras "cadeiras elétricas", nenhum bom resultado aconteceu. O mesmo sucedeu em 1982, e ao chegar em 1983, eu tomei uma decisão drástica: iria parar de gastar dinheiro alugando carros velhos e não competitivos, e iria tentar comprar algum equipamento. Dito e feito.
Além de meu emprego regular na IMO, que pagava legal, mas evidentemente não permitia extravagâncias tais como correr de carros, consegui um emprego num cinema, o ABC Fulham Road, como lanterninha! eu saía da IMO as cinco da tarde, pegava meu carro e literalmente voava para Fulham ( a IMO era do lado de baixo do Rio Tâmisa áquela altura, prédio novo e lindo, inaugurado pela própria rainha, depois conto a história). Tive vários carros de rua durante o tempo que morei na Inglaterra. Sempre dei preferência para modelos médios/grandes, pois tinha que rebocar carros de corrida, sou meio grandão, etc.
Bom, na IMO eu trabalhava com um iuguslasvo, Zoran, que era o rei do "jeitinho". A comida, além de muito ruim, era muito cara em Londres no começo dos anos 80. Portanto o iuguslavo Zoran tinha uma formula infalível de comer bem e barato: ele adquiriu um guarda pó branco, adentrava um hospital que ficava perto de nosso emprego, nunca ninguém pediu crachá ou coisa parecida, íamos ao enorme restaurante e, num mar de gente de guarda pós brancos, médicos e enfermeiros, principalmente, o que são mais dois? Eu comprei meu guarda pó, e na hora do almoço, saíamos de fininho e íamos ao Lambeth Hospital, onde entrávamos por uma porta lateral. Dali até ao enorme restaurante era perto, entrávamos, ficávamos na fila e comíamos muito, estilo bandejáo por apenas uma libra esterlina! Zoran era muito paquerador, e não demorou muito para que fizesse amizade com algumas enfermeiras bonitinhas. Pois bem, eu saía do meu emprego e na esquina do cinema, havia outro hospital. O mesmo guarda pó, me garantia o jantar por mais uma libra, uma verdadeira pechincha!
Começava o expediente às 6 da tarde, de segunda a sexta, e aos sábados e domingos da uma da tarde até mais de meia noite. Logo peguei um bico de montar os enormes letreiros, com os novos filmes que iam entrar em cartaz. Fazia um frio danado, tinha que ir até o porão, pegar as letras, a escada, e montar na fachada, mas isso me rendia mais alguns trocados. A gerente gostava de mim, pois nunca recusava trabalho, e logo, passei de lanterninha a porteiro, com direito a gravata borboleta e tudo. Era muito legal, pois o cinema era enorme, com 5 salas de exibição e ali eram lançados diversos filmes novos. Tive a oportunidade de ver de perto, astros como Richard Gere, Sean Connery, Jennifer Beals, Debra Winger e muitos outros, além de famosos que iam assistir aos filmes, como o saudoso e eterno "superman" Cristopher Reeve, grandão e muito simpático, que casado com uma inglesa, tinha um apartamente ali ao lado. Durante todo o ano de 1983 eu acumulei os dois empregos e não fiz nenhuma corrida. Mas, ao ver meu extrato bancário eu via que meu primeiro Formula Ford estava cada dia mais perto! Comprava a revista Autosport, que saía na quinta feira, mas eu a conseguia na quarta a noite, numa distribuidora. Assim, podia vasculhar sua seção de classificados antes dos outros leitores, e caso encontrasse alguma coisa que valesse a pena, tinha a vantagem. Acabei encontrando um carro que cabia no meu bolso, um velho Royalle PR24 de 1977 (estávamos em 1983), em ótimas condições ao norte da Inglaterra. O cara tinha começado a correr, acabou casando e o carro tinha pouquíssimo uso, e principalmente, nunca havia sofrido acidentes sérios. Ele me mandou fotos pelo correio (isso tudo foi pré-internet) e um belo dia, fui buscar o meu bólido! Gostei do que vi e não hesitei em fechar o negócio. Havia colocado um "rabicho" no meu carro, atrelei o trailer que acompanhava o carro, mais um monte de peças sobressalentes e um motor extra e rumei para Londres. Onde deixar aquele carro? O "jeitinho" resolve tudo, e falei com minha chefa na IMO, que me permitiu deixar o carro na garagem por alguns dias. Era engraçado ver a cara dos circunspectos ingleses ao chegar ao trabalho de manhã e deparar-se com um trailer, carro de corrida, tudo coberto por lonas, na vaga de estacionamento de seu local de trabalho! Acabei alugando uma garagem dentro do circuito de Brands Hatch, na verdade onde eram os boxes. Não era caro, mas houve um problema: realizou-se no final de 83 em Brands o GP da Europa, e tivemos que remover nossas tralhas por uma semana. Em troca, ganhei ingressos para ver a prova dos boxes, e calhou que onde ficava minha garagem foi utilizada pela equipe Brabham de Nelson Piquet, que venceu a prova! 1984 chegou tão rápido quanto o livro de Orwell, e eu tinha um monte de ferro velhos e nenhuma grana! O inverno foi terrível, mas eu comecei a circular novamente pelos circuitos para ver se fazia contatos, cavava algo para mim. Queria correr e logo! Mas ainda ia demorar....

continua

segunda-feira, 14 de maio de 2012

domingo, 13 de maio de 2012

ESPANHA: CORRIDAÇA COM VITORIA DE MALDONADO


Hoje na Espanha, na quinta etapa deste mundial de Formula 1 incrível, tivemos o quinto piloto e a quinta equipe a vencerem! A corrida em si foi muito movimentada e disputada e talvez o fato de Lewis Hamilton, que havia marcado o melhor tempo nos treinos ter perdido a pole position e ter largado do final do pelotão adicionou mais emoção a ela.
Eu sou um dos que não acreditava muito no Pastor Maldonado quando chegou a Formula 1 com a "pecha" de piloto pagante, talvez por preconceito meu, mas na época afirmei que ele pelo menos, tinha o título da GP2, que é um currículo bastante razoável. Hoje ele pilotou como gente grande e conquistou o respeito de muita gente, inclusive o meu. De Fernando Alonso não há muito o que escrever, exceto que mais uma vez ele tirou leite de pedra. Dos 63 pontos marcados pela Ferrari nesta temporada, 61 pertencem ao bicampeão espanhol, mostrando sua superioridade sobre seu companheiro Felipe Massa, cujo inferno astral parece não terminar nunca. Em terceiro lugar o pré prova favorito de muitos, o "iceman" Kimi Raikkonen, que realmente está pilotando bem, ajudado por um carro que a Lotus parece ter acertado no projeto. Seu companheiro Roman Grosjean fez boa prova também e fechou na quarta posição, nada mal para quem está em suas primeiras provas na categoria, apesar de também ter em seu cartel o título da GP2. Outro que fez boa corrida foi o japonês Kamui Kobayashi, cuja Sauber rende bem desde o começo do ano e fez várias boas ultrapassagens na prova. Em sexto, um mediano Nico Rosberg, lutando quem sabe, contra o desgaste excessivo de pneus de sua Mercedes. Lewis Hamilton fez prova movimentada, tendo perdido tempo atrás de alguns de seus adversários, após ter partido em último, e o oitavo lugar não foi um mal resultado nas circunstâncias.  Em nono, um apagado Jenson Button, que deixou a desejar em relação as apresentações anteriores e conquistando o último pontinho do dia, o bom Nico Hulkenberg com a Force India.
Os brasileiros tiveram uma prova lamentável, a esquecer mesmo, especialmente se considerarmos as apresentações de seus respectivos companheiros de escuderias. Felipe Massa teve um brilhareco no começo, tendo largado bem, mas a partir daí arrastou-se no final do pelotão, chegando a meta num lamentável décimo quinto lugar. Bruno Senna, cujas trajetórias de curvas me pareciam erráticas (eu vi pela TV) está num momento delicado de sua carreira. Apesar de todo o oba-oba do Cretinão Bueno em relação a seu noviciado, ele teve uma temporada completa na Hispania em 2010 e onze provas na então Renault em 2011, além das cinco provas deste ano. Tem mais largadas que o companheiro Maldonado, por exemplo, que já logrou a primeira vitória. Novato ou não, fez péssima prova, apesar de que no caso do acidente, eu vejo culpa exclusivamente em Schumacher, que com sua arrogância oriunda dos tempos em que era o bam-bam-bam, espera que os outros pilotos lhe dêm passagem. Errou grosseiramente na aproximação, bateu na traseira de Senna, chamou-o de idiota, e no final foi punido com a perda de cinco posições na largada em Mônaco, justo lá! Outro que fez ótima prova foi o campeão Sebastian Vettel, combativo e que já não tem o melhor carro neste momento do campeonato. Seu companheiro Mark Webber lutou, mas não brilhou.
Fiquei bastante surpreso com a evolução técnica da equipe Williams e mais ainda com a maturidade com que Pastor Maldonado assumiu a responsabilidade de largar na pole position e não se intimidar com a presença constante de Alonso em seus retrovisores. O campeonato está muito bom e se prevê para breve uma vitória da Lotus que vem evoluindo muito. É disso que gostamos!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

REPOST: CONTINUANDO A SAGA, ORIGINALMENTE POSTA EM 12 DE AGOSTO DE 2009




Quando comecei este blog, em março, se não me falha a memória, pretendia falar de várias coisas, pois minha cabeça é multi-assuntos. Acabei me concentrando mais no automobilismo e tendo uma ótima aceitação. Narrei passo a passo o que me fez gostar tanto desse esporte singular, depois passei a descrever a epopéia de minha aventura pelas pistas européias na condição de piloto de Formula Ford, aspirante de Formula 1 (sonhar não paga nada e é gostoso....rs). Os meus posts sobre as sagas e desventuras eram os mais populares, mas dei uma parada proposital no final de maio, pois não queria caracterizar o blog como sendo "falar de mim, eu e eu mesmo". Almejava e almejo uma aceitação ampla como expert, como crítico, como jornalista especializado, com opiniões próprias e equilibradas. Acho que esse objetivo foi conquistado. Passada essa fase, vou portanto, voltar a narrar minha saga pessoal, que se não foi bem sucedida em me levar à Formula 1, foi muito rica e interessante no plano humano.

Retomando: na última postagem eu narrava como no final de 82 voltei ao Brasil de férias cheio de esperança, pois tinha encontrado um provavel patrocinador na empresa de um inglês casado com uma senhora brasileira, que havia recebido o convite para fazer o curso de pilotagem da Brands Hatch Racing School gratuitamente, e que o próprio Emerson Fittipaldi havia intermediado o empréstimo de um chassis de Formula Ford Van Diemen, da própria fábrica. Ou seja: as coisas estavam extremamente promissoras.
No Brasil, fiz alguns contatos com empresas de São Paulo, me lembro de haver passado horas brincando com uma máquina de escrever portátil a preparar um detalhado "Plano de Patrocínio" (tenho uma cópia em algum lugar). Não havia computadores pessoais, claro, e o jeito era datilografar e tirar cópias. Levei alguns foras, alguns "talvez" e outros nem me receberam. O Brasil era muito diferente naquele início de década de 80, a inflação galopante fazia com que as empresas tivessem muita cautela com investimentos, especialmente em moeda estrangeira. O retorno era incerto, e um caipira de Ourinhos dificilmente teria êxito, entendo isso claramente hoje, mas na época, não ser recebido, ou quando recebido ter que explicar o be-a-bá do automobilismo era frustrante. Mesmo com o sucesso de nossos campeões no exterior, Emerson e a esta altura Piquet, o brasileiro médio ainda não acompanhava as outras categorias, por falta de divulgação e cultura esportiva. Os jornais só davam notícias de futebol ( mudou um pouco, mas não muito), e ter que explicar as divisões das categorias de base, a progressão de carreira e as possibilidades era muito comum.
Voltei cheio de gás para o gelado inverno inglês no começo de 83, após algumas decepções pessoais que nem chegaram a me abalar, pois tinha o firme propósito de me concentrar em ser piloto. As decepções não tardaram: pressionado por dívidas enormes, a equipe Fittipaldi teve que cerrar suas portas, Emerson e Wilsinho entregaram tudo ao fisco inglês e ainda ficaram devendo muito (pagaram anos depois com o sucesso de Emerson nos Eua). O meu patrocinador em potencial foi vítima de um incêndio em sua fábrica de móveis para escritório e não poderia me apoiar financeiramente. Pelo menos pude fazer o curso de pilotagem (novamente, já que havia feito o Jim Russell no final de 80) e foi ótimo para contatos. Conheci pilotos que depois teriam um impacto grande no automobilismo: Julian Bailey, Damon Hill, e muitos outros. Conheci principalmente o chefe de instrução na escola, Tony Trimmer, um inglês magro e caladão, mas de respeitável currículo na carreira, tendo inclusive ganho o prestigioso Grande Premio de Monaco de Formula 3 em 70. Ele me afirmou categoricamente que eu era "material para Formula 1 ", o que aumentou minha confiança, e paradoxalmente, meu desespero, pois não conseguia sair do lugar.

Continua.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

REPOST: CONTINUANDO A JORNADA, PUBLICADO EM 26 DE MAIO DE 2009




Depois de minha primeira corrida, apesar de não ter completado a prova, estava definitivamente decidido a fazer qualquer sacrifício para continuar a correr. Minha situação era a seguinte: tinha um bom emprego durante a semana, não precisando trabalhar aos sábados e domingos. Havia me mudado para um pequeno quarto/sala/cozinha, dividindo banheiro para pagar aluguel baixo. O problema é que um orçamento decente para uma temporada de Formula Ford com uma  das equipes boas (nem pensar na equipe de fábrica Van Diemen - além de só aceitarem pilotos experientes e com bom potencial, o custo era altíssimo, algo em torno de 20 mil libras por temporada) era de mais de 12 mil libras ano. Eu ganhava 400 libras por mês! As outras opções era alugar carros mais baratos na base de corrida por corrida( mas não dava para treinar e nem pegar ritmo), ou comprar um equipamento- muito caro. 
Enquanto buscava opções, consultando furiosamente as páginas de anúncios classificados da "Autosport", eu conseguia alguns bicos para trabalhos temporários nos finais de semana. Me lembro de ter feito pinturas pequenas, lavar copos num restaurante chique, e até um estágio de sábados e domingos numa loja do McDonalds! Sempre fui muito econônico, nem tinha tempo para sair e não gosto de baladas, num determinado momento havia economizado mais de mil libras, decidi alugar um carro e fazer alguns treinos.  Conheci um outro picareta, Doug Wood, que tinha um Van Diemen, além de um Crosslé laranja (devo ter algumas fotos por aí) e o Crosslé, já com alguns anos de uso, era mais barato. Eu queria quilometragem, portanto não hesitei e escolhi o vellhíssimo Crosslé para alguns testes e uma corrida em Snetterton. A memória já não é tão precisa, mas acho que bati o carro numa barreira de pneus por falta absoluta de freios, o que gerou uma feia discussão, pois o cara queria que eu pagasse o prejuízo total, quando havia me garantido que o carro tinha seguro. Eu concordei com a franquia do seguro, jamais pagaria o preço que ele me pediu. No final nos acertamos, mas era duro negociar com aqueles ingleses! 
Para resumir: entre 1981 e 1982 eu corri umas seis ou sete vezes, sempre com equipamentos pré-históricos (na época havia uma categoria de Formula Ford velhos, a Pré 1974 - quase comprei um carro daqueles para correr - mas verifiquei que os custos de manutenção eram quase tão caros quanto). Cansei de levar volta dos líderes, mesmo em corridas curtas, e sem tempo para treinar ou desenvolver eu nada mais podia fazer. Dentro de mim, no entanto, havia uma certeza: toda vez que me sentava num carro de corrida, a cada volta, eu melhorava um pouquinho, e isso me dava uma confiança e uma motivação incríveis!
No final de 1982 conheci uma senhora brasileira que vivia há muito tempo na Inglaterra, Leila, casada com um inglês boa praça e empresário bem conectado. Ela me convidou para ir a sua casa, ficamos amigos e o marido me disse que conhecia o John Webb, dono de Brands Hatch. Parece-me que ele era o fornecedor de móveis de escritório, já que tinha uma pequena fábrica em expansão. Um belo dia recebo um telefonema de alguém em Brands Hatch, achei meio confusa a conversa, mas combinamos um encontro no sábado seguinte. 
Ao chegar ao escritório do autódromo, todos muito amáveis e um frio incrível de dezembro, me disseram o que tinham em mente: Brands Hatch tinha uma escola de pilotagem que eles queriam promover. Haviam convidado o Damon Hill (então correndo de motos), o David Hunt (irmão caçula do James Hunt) o Gary Brabham (filho do meio do lendário Jack Brabham) e o filho da primeira ministra Margaret Tatcher, Mark, para fazer um curso de pilotagem totalmente gratuito, em troca, usando os sobrenomes famosos teriam muita mídia para divulgar a escola. A proposta era extensiva a mim, pelo sobrenome Fittipaldi. Eu achei ótimo, apesar de já ter feito algumas corridas, mas treinar de graça me parecia bom, sem dúvida. Deixei claro que minha relação de parentesco com Emerson era a mais distante possível, eles não se importaram.  Para melhorar as coisas, John o marido de Leila, se entusiasmou com a situação e me prometeu um pequeno patrocínio para o ano seguinte. Não tive dúvidas: peguei o telefone e liguei para o Emerson, que simpático como sempre me deu apoio moral. Alguns dias depois, ele me liga novamente dizendo que havia conversado com o Ralph Firman, dono da Van Diemen e que havia sido seu mecânico na F3, e que este oferecera o chassis 81 que havia sido usado por Ayrton Senna praticamente de graça para eu usar! Não poderia estar mais feliz: um patrocínio acertado, carro prometido, e o apoio- ainda que tímido, do meu ídolo de infância Emerson. Peguei o avião feliz para passar algumas semanas com a família no Brasil, e mal sabia que meus sonhos todos iriam desmoronar quando eu voltasse dos trópicos.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

REPOST: DEPOIS DA TEMPESTADE VEM A BONANÇA..... POSTADO EM 16 DE MAIO DE 2009




Pois bem: espero pacientemente minha vez, procuro um lugar para colocar o macacão verde musgo e largo que havia trazido de Ourinhos e que arranca risinhos dos outros "pilotos", e é difícil achar um local com privacidade para isso, uma vez que os banheiros públicos são bem ....públicos mesmo! Inútil também tentar achar algo decente para comer, não me canso de me surpreender negativamente com o amadorismo das instalações dos circuitos ingleses, mesmo os mais importantes como Silverstone e Brands Hatch. Muita lama, estacionamentos distantes, comida nauseante, muita confusão, mas um domingo típico leva mais de 200 competidores e milhares de fãs. Engraçado é que os garotinhos vêm conversar com você, esticando os braços com os programas das corridas e pedem seu autógrafo na página em que está a sua prova, de preferência sobre seu nome.
Mas, vamos voltar a Lydden Hill. Eu seria apenas o terceiro a testar o carro, mas para minha frustração e da nação em geral, o gordinho entalou dentro do carro e precisou ser cortado com maçarico! - To brincando, na verdade a anta do gordo bateu o carro de frente numa barreira de pneus do outro lado da pista, e realmente, ficou sentado dentro do carro esperando socorro. Recolhe as ferramentas, destroca o macacão, a fome apertando e o cara fazendo que não entendia quando eu lhe pedi a minha grana (100 libras pelo teste) de volta. Eu olhei bem nos olhos dele, me lembrei de meus tempos de garoto em Ourinhos quando havia brigas na saída do Horácio Soares quase todos os dias, e que em algumas delas eu era obrigado a me envolver também, fechei os punhos e falei em bom portuinglês: I soc you! (até hoje não procurei no dicionário se há um verbo to soc, mas acho que funcionou, porque ele me chamou Na van e me devolveu a grana).
Claro que uma carona até a estação estava descartada, pus-me a andar e o circuito, além de longe fica no fundo de um vale. Caminhei por uma hora ou mais e cheguei na pequena estação bem a tempo de apanhar um último trem para Londres, frustrado, amargo e muito puto!
Isso foi numa quarta-feira, se não me engano. Qual não foi a minha surpresa ao receber um telefonema do tal de Richard no sábado a tarde, me chamando para competir no dia seguinte em Brands Hatch, e melhor, de graça! Meu inglês era fraco, mas fora bem treinado para detectar a palavra "free" em qualquer situação, e meio descrente ainda, marquei com ele para me pegar na estação as seis da manhã seguinte. 
Nem dormi a noite, preparei minhas coisas, lembrei-me de passar num mercadinho e comprar pão de forma, queijo e presunto, pois não queria passar fome novamente. Licença de piloto, capacete lustrado, macacão - ainda o verde musgo - carteira de piloto provisória, e muita vontade. Levantei antes das cinco, tomei banho (que frio....) e pus-me a caminho da pista. Cheguei pouco depois da seis e um animado Richard, sorridente e com aparente problema de amnésia (nem mencionou o "soc").  Ele me disse que eu seria um de três pilotos que utilizariam o carro naquele "meeting", no lugar de um desistente, e como o rapaz não fizera questão de buscar a devolução do dinheiro, eu poderia pegar alguma prática. Olhei o programa e eu seria um tal de Tobby alguma coisa, mas nem liguei. Brands Hatch era bem mais movimentado que Lydden Hill e apesar de já ter assistido a algumas corridas naquela pista, jamais havia entrado na mesma, a pé ou de carro. A minha prova era a primeira, portanto ele me recomendou que me trocasse e ficasse pronto. Ansioso, esperei pacientemente até que descarregassem o "bólido" do pequeno trailer e pude verificar, para meu alívio que o negão não era um dos outros dois pilotos do carrinho azul. Como existiam otários naquela época!
Richard tentou me dar algumas explicações sobre temperaturas de pneus, macetes da pista, estas coisas, enquanto eu entrava no carro e apertava o cinto de segurança, mas francamente, eu não o ouvia, tamanha era minha excitação! Não só era meu primeiro treino oficial, como também era o primeiro treino da minha vida, já valendo tempo e numa pista que eu jamais estivera, do alto da experiência de um curso de inverno de escola de pilotagem.
Funcionei o motor, aqueci, e esperei pacientemente para entrar na fila que ia para a pista. Não se esqueceram de colocar a plaquinha amarela com a letra "L", como para avisar aos outros o perigo ambulante que estavam prestes a encarar. Tudo acontece muito rápido: você acelera, entra na pista, acelera mais, parece não sair do lugar, e logo vai tomando volta dos mais rápidos, preocupando-se mais com o espelho retrovisor do que com a pista adiante. Uma volta, duas, muito rápido numa curva, rodei, bandeiras amarelas, motor  funcionando, engatei primeira e segui novamente. O coração acelerado, o rosto certamente vermelho de vergonha, a balaclava roxa fazendo bem o seu papel de esconder isso do mundo! Procurei terminar o treino e não fazer mais besteiras, de vez em quando dava para olhar o conta-giros e os outros relógios no painel, mas em 20 minutos, você aprende muito, muito mais que em uma semana de curso. Classifiquei-me em ante-penúltimo, acho que os outros dois caras estavam competindo de bicicleta, porque sabia que tinha muito que aprender. Se bem me recordo, meu tempo foi por volta de 59 segundos para o circuito indy de Brands, quando os ponteiros já rodavam por volta de 50 cravados. Richard ficou muito feliz que eu tivesse trazido o carro em uma única peça de volta para os boxes, mas mal pode me dar atenção, pois havia ainda duas classificações para outras duas corridas com o mesmo carro. Nem me lembro do tempo dos outros pilotos, suas corridas eram mais difíceis, mas acho que me saí bem, pois todos me olhavam com um certo ar de respeito, ou talvez, o meu macacão de brim verde musgo os impressionasse, sei lá.
A minha largada era logo depois do almoço, e eu super ansioso recebo a boa notícia: o alternador não carregava a bateria e a única que tínhamos havia descarregado quase completamente. Portanto, teríamos que ligar o carro no tranco (escondido dos fiscais), coisa que para mim era fácil, pois meu pai havia me treinado durante anos com uma infinidade de carros velhos e sem partida, mas eu não poderia em caso de rodar novamente, deixar o motor morrer. OK, no problem, Richard!
Um dos momentos inesquecíveis de minha vida foi a volta até chegarmos ao ponto de partida de Brands Hatch naquele domingo frio de 1981 - nem me lembro a data exata. Mas foi incrível, eu olhava para as arquibancadas de dentro de meu capacete de motos, verde como o macacão, e mal podia acreditar que estava ali, do lado de dentro da pista.  Acho que havia uns vinte e oito carros no grid, eu era o vigésimo-sexto e decidi não me estressar, apenas curtir a corrida, como se fosse a única de minha vida. E foi exatamente o que fiz: larguei bem, passei uns dois, outros dois saíram rodando na curvona depois da linha de chegada e fui conduzindo o carro até o final, tranquilo, sem olhar os relógios do painel, até que.....a bateria foi ficando fraca e o carro perdeu rendimento, após umas cinco ou seis voltas de 15. Pena. Estacionei ao lado da pista e fiquei observando os outros pilotos, capacete na mão e me sentindo um piloto. Desnecessário dizer que minha ansiada assinatura na licença não veio, por não ter completado a prova, mas Richard me teceu muitos elogios.
De volta a realidade, comecei a matutar como conseguir dinheiro para mais treinos e mais provas. Havia ficado definitivamente viciado no negócio. Queria mais e mais!

JEAN PIERRE BELTOISE: 75 ANOS DE VIDA




Eu gostava do piloto francês Jean Pierre Beltoise, confesso que nunca foi um dos meus ídolos maiores, mas sentia simpatia pelo seu esforço, pela sua história (sofreu terrível acidente de moto e ficou meses no hospital, manca até hoje). Mas um fato o marca em minha privilegiada galeria de memórias: foi o vencedor daquele Grande Prêmio de Mônaco de 1972, sob chuva torrencial, que por acaso foi a primeira prova a ser televisionada ao vivo e direto para o Brasil, seguindo as boas apresentações de Emerson Fittipaldi (que viria a se sagrar campeão ao final daquela mesma temporada). Feliz aniversário, Beltoise!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

RESPOSTAGEM: FINALMENTE UM PILOTO. PILOTO QUER CORRER. MÃOS A OBRA. PUBLICADO EM 15 DE MAIO DE 2009





Volto a Londres e à dura vida de proletário. Na verdade nada de que me queixar, se nos três primeiros meses trabalhei como lavador de pratos e camareiro, além de eventuais bicos, à essa altura já estava, graças ao meu "guardian angel" Mário, trabalhando na IMO, orgão da ONU responsável pelos oceanos. Emprego legal, divertido, pagava razoavemente bem, e principalmente, me garantia a estadia legalizada no Reino Unido!
O ano de 1980 chega ao fim e eu perscrutava as páginas finais da revista "Autosport", seção de classificados, para ver se conseguia alguma oportunidade, alguma equipe contratando futuros campeões mundiais de Formula 1, quem sabe! Claro, o  mais comum eram anúncios de carros de corrida usados à venda, alguns profissionais se oferecendo, equipes mostrando suas estruturas e por aí vai. No entanto, haviam alguns anúncios de "Hire a Formula Ford for cheap" - alugue um Formula Ford barato, e eu comecei a anotar os telefones, sem ainda ter a coragem para ligar, afinal a temporada já havia terminado e não havia corridas acontecendo. 
No início de 1981 comecei a ir assistir as corridas, especialmente Brands Hatch, pois era próxima a Londres e eu podia ir de trem. Já contei aqui as passagens das primeiras provas do Ayrton Senna, onde eu ficava "sapeando" nos boxes, amparado por minha carteira provisória de piloto inglês e muita lábia brasileira. Conheci outros pilotos e potenciais pilotos, e também chefes de equipes, mecânicos, e se bem que meu inglês era paupérrimo, alguma coisa já dava para entender e me fazer entender. O problema é que eu ganhava cerca de 450 libras esterlinas por mês, que era um belo salário, mas o aluguel de um Formula Ford velho, era por volta de 300 libras por corrida, que durava em média dez, doze minutos. Claro que as grandes equipes, como a Van Diemenn, do Senna, cobravam cerca de vinte mil libras por temporada, incluindo treinos, inscrições e tudo o mais. Totalmente fora de meu alcance financeiro.
Lá por abril, maio, eu vi um anúncio na revista Autosport, de um tal de Richard Ward (não esqueço o nome do maledeto, mesmo quase trinta anos depois) que tinha um Van Diemen 80 (razoavelmente novo, portanto). Liguei para o cara, marcamos de nos encontrarmos em um pub, ele era jovem (uns 30 anos no máximo) e me disse que havia tentado ser piloto, mas que tinha vocação mesmo para gerenciar carreiras de outros, que como eu, tinham mais talento para a coisa. O inocente aqui, acreditou e conversamos bastante, eu cheguei inclusive a ir a sua casa, conheci sua esposa, etc. Na verdade, o carrinho dele era um Van Diemenn 78 azulzinho, malhado e mais batido  que carro do Andrea de Cesaris em final de temporada, modificado para modelo 80.
Bom, para encurtar a história, resolvi fazer minha estréia, com a carteira provisória eu tinha que fazer 6 corridas nacionais (não podiam ser em campeonatos internacionais, portanto) e completar todas, obtendo as assinaturas dos fiscais, além de levar no carro uma placa amarela com a letra L em preto (learner= aprendiz), humilhante, mas útil. Marcamos para eu testar o carro num dia de semana em um pequeno autódromo chamado Lydden Hill, bem perto do litoral, ao sul, pista que hoje pertence á Mclaren. Pistinha de morro, pequena, seletiva, uma delícia. Peguei o trem, alguém me apanhou na estação, quase duas horas de Londres, e a surpresa: como haviam 3 corridas de Formula Ford no programa, haviam uns 3 coitados pagando para dividir o mesmo carro no mesmo evento: um sujeito baixinho e mal humorado, bem mais velho, um negão gordo (que imaginei teria que ser colocado no carro antes da carenagem, para caber dentro) e yours trully, o caipira aqui.

REPOST: O DIA SEGUINTE - TÍTULO ORIGINAL: CHEGUEI, ESTOU AQUI E AGORA? PUBLICADO PELA PRIMEIRA VEZ EM 28 DE ABRIL DE 2009





Bom, eu prometi que continuaria, agora aguentem! Levantei-me meio confuso, estava no quarto andar do hotelzinho sem elevadores e o cheiro de bacon me atraia para o "basement". Após lavar o rosto, escovar os dentes e etc, me dirigi ao pequeno refeitório do modesto hotelzinho. Comi como um paxá, ou melhor um Lord inglês: english breakfast - torradas, feijão com molho de tomate, sausichas, bacon, ovos mexidos, geleía, queijo, café, suco de laranja, chá.....a fome realmente era transatlântica. Terminado isso deparei-me com uma crua realidade: estava numa cidade estranha, num país estranho, sem conhecer ninguém, sem falar a língua, sem ter uma noção do que fazer a seguir. 
Subi novamente ao quarto e deparei-me com um bilhete que o amigo da Elza havia pedido que eu entregasse a seu amigo que morava em Londres. Era um pequeno envelope branco, com o nome e endereço escritos ás pressas do lado de fora: Mario Antonio de Mello Dias - IMCO - 101-104 Piccadilly, London. Bom, era um começo pensei, vamos ver o que é esse tal de Piccadilly. Peguei um desses mapas para turistas na recepção do hotel e me concentrei em estudar as possíveis rotas para o tal endereço. Escolhi, por pura insegurança a rota mais longa, e mais segura aparentemente, apenas usando as ruas maiores. Eu não tinha noção de horário por causa do fuso e por ter dormido desde as 6 da tarde do dia anterior, mas acho que era menos de 7 da manhã. Apesar de ser finalzinho de abril, havia um ventinho gelado, portanto coloquei meu casaco (brega demais), um gorro na cabeça, luvas e fui caminhando. Park Lane, que maravilha, de um lado o Parque e do outro lindas lojas de autos, sofisticadas como eu jamais havia visto. Os carros passavam velozes, todos novos e bem conservados. Oxford Street com suas incríveis vitrines, gente começando a chegar para os seus trabalhos, aqueles ônibus de dois andares que a gente vê nos filmes e eu caminhando. Piccadilly circus, aquela loucura, a fonte, tráfego, gente apressada, turistas batendo milhares de fotos, os out doors coloridos. Virei e peguei a Piccadilly propriamente dita, mas os números não eram sequenciais, fiquei meio perdido mas continuei a caminhar. Do outro lado um parque lindo (Green Park) e deste lado aqui lojinhas simpáticas e acolhedoras. Eu certamente não conhecia ninguém, não falava a lingua, mas me sentia estranhamente em casa naquela manhã de 24 de abril de 1980.
Cheguei finalmente ao prédio de número 101-104, um prédio enorme com uma escadaria imponente e réplicas de navios numa espécie de vitrine. Subi, entrei e havia um homenzarrão de quase dois metros de altura sentado atrás de uma mesa. Ele me olhou e perguntou em seu inglês cockney : - May I help you young man? Claro que eu não entendi patavinas, portanto estiquei a minha mão com o pequeno envelope e o entreguei a ele. Calmamente Ray (este era o seu nome e depois rimos muito desse primeiro pequeno encontro - anos depois) colocou seus óculos e exclamou- Mário! you want to see Mário! Pegou o telefone, discou um número, murmurou algumas palavras e percebendo que eu não o entendia, me fez sinal para aguardar um pouco, sentado no enorme sofá de couro da recepção.
Em alguns minutos um jovem, simpático e sorridente desceu pelas escadas, assobiando, a imagem de um sujeito simples e feliz da vida e ao sinal de Ray dirigiu-se a mim: - Yes, I'm Mário, may I help you? - ao que eu respondi: - Cara, sou brasileiro, você fala português? Ele sorriu e em bom carioquês me retrucoou: - Brasileiro? grande merda....eu também sou, dando uma sonora gargalhada. Entreguei-lhe o bilhete, ele o abriu e leu rapidamente e dirigindo-se a mim disse: Então tu é brasileiro e tá chegando aqui hoje, hein? O Carlinhos disse que tu é um cara legal, para eu te dar uma força. Até aquele momento eu não sabia o nome do remetente do bilhete, e expliquei rapidamente ao Mário a situação, que eu não o conhecia, mas que a moça havia me ajudado etc. Este me falou, escuta, eu estou ocupado agora, dá para você voltar ao meio dia e almoçamos juntos? Eu respondi que claro que sim, aliás nem sabia que horas eram, tinha caminhado um bocado. Despedi-me e continuei a caminhar até a esquina, onde deparei-me com uma enorme banca de revistas (minha paixão desde sempre). Fiquei extasiado com tamanha variedade e comprei uma "Autosport" com o Nelson Piquet e sua Brabham na capa, acho que tenho esse exemplar até hoje. Dirigi-me ao parque, sentei-me num banco e com a ajuda de meu pequeno dicionário Michaelis, tentei decifrar a revista. Naquele momento, frustrado por não entender nada, prometi a mim mesmo que viria a dominar aquela língua tão diferente e tão importante.
Ao meio dia em ponto, estava na recepção da IMCO, esperando por Mário. Fomos caminhar em May Fair, logo atrás e ele contou-me sua história: morava há sete anos em Londres, era músico tendo inclusive tocado com gente importante como Rita Lee e foi para a Inglaterra com um contrato com a EMI, e os demais integrantes de seu grupo acabaram desistindo deixando-o sozinho em Londres. Isso ele tinha apenas 19 anos, mas como falava inglês, resolveu ir ficando e acabou arrumando aquele emprego, num órgão da ONU. Era casado com Angela, uma bailarina do Royal Ballet, tinha três gatos (arghhh) e gostava de automobilismo tendo sido amigo do Julio Cesar Pinheiro, piloto brasileiro que havia corrido alguns anos antes na Ilha. Nos demos super bem e ele prometeu me ajudar. Voltei (a pé ) para o hotel bastante confiante e feliz, pois havia feito o primeiro amigo naquela terra que prometia muito. O futuro iria provar que aquele seria um dos maiores amigos que fiz em toda a minha vida!

terça-feira, 24 de abril de 2012

REPOST: CONTINUANDO A SAGA (DATA DE POSTAGEM ORIGINAL 24/04/2009)






A viagem em si foi meio traumática pois, ao entrar no enorme avião, meio vazio, me dei conta da loucura que estava prestes a cometer. Jamais havia saído do interior, tinha roupa lavada e passada, comidinha da mamãe, meus amigos, minha rotina e muitos sonhos. Esses danados, foram os responsáveis pela minha decisão de torná-los realidade, mas naquele momento, há exatos 29 anos atrás, um friozinho me passou pela espinha e pela barriga e pelo corpo todo, para ser sincero. Fiquei observando uma simpática senhora sentada na mesma fileira que eu, distante alguns assentos. Eu havia mandado confeccionar dois macacões de corrida, bem amadores na realidade, e conseguido um capacete de motos como ajuda/patrocínio. O vôo em si foi bem normal, fizemos escala em Lisboa e em Madrid, se bem me lembro, e eu nem desci do avião, com tanto medo de me perder naqueles labirintos de aeroportos....
A moça, Elza, havia me orientado direitinho de como proceder na imigração, não dizer que eu ia tentar a sorte em automobilismo e se perguntassem se eu tinha dinheiro, dizer que sim. Ao nos aproximarmos do aeroporto de Gatwick, o dia estava nublado como sempre na Inglaterra, furamos a camada de nuvens e pude avistar aquele verde todo, aquelas casinhas lindas e simétricas lá embaixo, as fumaças das chaminés, foi uma sensação incrível que jamais vou me esquecer, pois como num passe de mágica toda os meus receios se foram e me deu uma sensação gostosa de felicidade, de estar chegando finalmente em casa! Passados quase trinta anos, ainda me admiro daquela sensação, pois estava aflito e ansioso, inseguro, e de repente, tudo desapareceu e deu lugar a uma confiança enorme.
Pousamos, peguei o trem como ela orientou para a Victoria Station em Londres, mas antes, na Imigração passei por uns apertos. O senhor que me entrevistou tentava em vão se comunicar comigo, e eu não falava uma única palavra em inglês, fazia sinal de sim com a cabeça. Ele foi ficando meio bravo e acho que estava disposto a me devolver para o meu mundinho anterior, quando pediu para que eu abrisse as malas. Me lembro que ele perguntou de dinheiro e eu, com apenas aquelas 265 libras no bolso disse que yes, I have money! Ao abrir a mala, a primeira coisa que eu tiro é o capacete, verde, e logo depois o macacão. O cara olhou, viu meu sobrenome Fittipaldi no passaporte e disse com um gesto que eu podia recolocar as coisas na mala. Acho que pensou que eu já era piloto ou coisa parecida e carimbou o prazo de seis meses na folha correspondente. Achei muito pouco, pensei até em reclamar, mal sabendo que era o máximo que eles permitiam aos turistas permanecerem na Ilha, mas com meu precário poder de oratória, desisti: ainda bem!
Peguei um taxi, e dei o cartãozinho amassado que a moça havia me emprestado, com o nome do hotelzinho para estudantes em Paddington. Achei o máximo aqueles carros todos, aquelas motos incríveis passando por nós, naquele época as importações eram proibidas no Brasil, e me lembro de ter visto uma revenda de motos BMW na Park Lane, virando o pescoço para trás.
Chegamos ao hotelzinho, um de muitos na Sussex Gardens e eu dei uma nota de dez libras para o motorista que me deu o troco. Conferi, pois não conhecia o dinheiro inglês e pegando as duas pesadas malas me dirigi á recepção do hotel. Vi numa placa o seguinte : Single room: $ 7 per night. Claro que o sinal era de libra esterlina, que não acho aqui em meu teclado, mas dá para entender. O rapaz que me atendeu me estendeu um livro para preencher a ficha e eu bati no peito e disse em bom inglês: me want 5 nite! com a mão aberta a reforçar a quantia de noites, já tirando umas notas do bolso, já que o pagamento era adiantado.
Subi quatro andares pela escada, já que não dispunhámos de elevador e ao chegar no pequeno e acanhado quartinho, olhei-me no espelho e tive uma certeza: era um doido varrido mesmo. Dormi quase imediatamente, coisa que não fizera durante o longo voô, e ao acordar cedinho no dia seguinte, meio perdido, senti o cheiro de bacon no ar.......

segunda-feira, 23 de abril de 2012

MINI EFEMÉRIDE E REPOSTAGEM. 23 DE ABRIL

Hoje, 23 de abril, faz 32 anos que fui para Londres em perseguição ao "sonho". Há trés anos, quando comecei o blog, fiz uma pequena postagem sobre aquela data. Quero dedicar esta postagem ao meu grande amigo, Mario Antonio de Mello Dias, que foi meu pai, irmão, guru e orientador naqueles primeiros e difíceis tempos.
Primeiros tempos: com o velho carro da escola de pilotagem Jim Russell em Snetterton.

Sei que para alguns as datas são de extrema importância. Eu não sou fanático por elas, mas me lembro das mais significativas, os aniversários da família, e de algumas outras. Para mim, o dia de hoje, 23 de abril, é muito importante, pois foi justamente nesse dia, há exatos e longos 29 anos que eu embarquei rumo ao meu sonho para a Inglaterra.
Um garoto simples, tímido, do interior, com 20 anos recém-completos, embarcando numa aventura rumo ao desconhecido.Tudo começou muitos anos antes quando passei a acompanhar o automobilismo, primeiro pelas revistas de meu pai, depois pela TV com a ascenção do Emerson Fittipaldi e sua incrível Lotus Ford negra e dourada. Fui formulando um sonho doido dentro de minha cabeça de adolescente e num determinado momento, achei que tinha chegado a hora. Lendo relatos nas revistas AutoEsporte, de vários pilotos brasileiros menos abonados que conseguiam se manter na Ilha trabalhando em empregos laborais, me animei e, ao conhecer um professor de cursinho que tinha morado por lá, animado por este, resolvi tentar a sorte.
Ingenuidade e ignorância aliados, não são uma boa fórmula para o sucesso, a menos que estejam acompanhados de uma dose maciça de sorte, e essa eu tive!
Embarquei no Aeroporto de Viracopos, passagem só de ida comprada em 10 vezes no Bradesco, avião da British Caledonian (DC10), uma mala cheia de roupas que nunca cheguei a usar, 265 libras esterlinas no bolso, um pequeno dicionário Michaelis, daqueles verdinhos, nenhuma palavra inglesa no vocabulário, e muita vontade. Eu não tinha a mais remota idéia do que encontraria por lá, a menos que as leituras da Agatha Christie não estivessem tão defasadas, ou mesmo que Baker Street ainda fosse o lar do Sherlock Holmes. Sempre gostei de ler, então alguns autores britânicos habitaram os anos de minha juventude, me fazendo gostar ainda mais da Inglaterra e das coisas inglesas. O bem mais precioso que eu levava em minha bagagem no entanto, cabia no bolso: uma carta do Emerson Fittipaldi me recomendando ao Jim Russell - que tenho guardada até hoje!
No embarque, conheci uma moça que trabalhava na companhia aérea, Elza, que penalizada com minha ignorância e inocência, arrumou o endereço de um amigo de um amigo brasileiro, além de me dar o cartão de um hotelzinho para estudantes e mil recomendações.
Bom, os detalhes eu conto num próximo relato, talvez amanhã. Hoje eu só queria deixar registrado a data e postar uma ou duas fotos de minha passagem por aquela terra encantada.

domingo, 22 de abril de 2012

QUIZZ: UMA FOTO DO PASSADO, VÁRIAS HISTÓRIAS

Vou colocar uma foto que achei no Facebook. Esta foto é um ínfimo instante capturado por um fotógrafo que não sei o nome, senão daria o devido crédito. Existem várias histórias aqui. A única vitória da história de uma determinada equipe, uma das maiores "zebras" da Formula 1. Há um campeão mundial (que não o havia sido ainda) e dois vices. Um piloto que fez apenas este GP por esta equipe. E um piloto que não deveria estar aí. Se alguém puder me ajudar, agradeço. Caso contrário, segunda ou terça eu mesmo esclareço o quizz.

REPOST NR 3. REMINISCÊNCIAS PESSOAIS PUBLICADO EM 04 DE ABRIL DE 2009


Estou cansando meus poucos leitores, mas prometo que acabo logo com essa tortura e vou me concentrar em assuntos mais profícuos para o blog. Deixem-me no entanto, tal qual garotinho a curtir um novo brinquedo (meu blog) a saborear momentos de nostalgia pessoal.
Entre 1975 e 1976, estive algumas vezes em Interlagos assistindo provas de monopostos, turismo, marcas, etc. Lembro-de de uma prova de Divisão 1, vencida pelo Atila Sipos em que ele veio pela reta dos boxes acendendo e apagando os faróis de seu Passat, eu vibrava e sonhava um dia estar dentro de uma pista. Filho de família de classe média do interior, minhas perspectivas reais eram próximas do zero, mas eu sonhava acordado e adorava aquele ambiente cheirando a gasolina e óleo. Entre os pilotos de Formula Super Ve, sempre gostei de um tal de Nelson Piquet (antes Piket) e nem sonhava no que ele viria a se tornar. Admirava o Chiquinho Lameirão, o Marcos Troncon, o Ingo Hoffman (outro que também eu jamais imaginei se tornaria um ícone), o Júlio Caio de Azevedo Marques, Luiz Moura Brito. Uma vez num salão do automóvel, moleque atrevido que era, com meus 15 ou 16 anos, fiquei chavecando a linda recepcionista do estande dos Escapamentos Norma, uma morena escultural, que anos depois, se tornaria Miss Chico Anísio, Alcione Mazzeo. Simpática e linda, ela deve ter aguentado muitos moleques do interior sem assunto e "muito" interessados nos detalhes técnicos constantes dos folders dos escapamentos...
Nesse mesmo salão, fui muito gentilmente atendido no pedido de um autógrafo pelo José Pedro Chateaubriand, um bota que infelizmente, segundo consta, faleceu em circunstâncias meio obscuras.


Naquela época o Brasil tinha bons campeonatos nacionais e alguns regionais de bastante significancia. No turismo, tinhamos Reinaldo Campelo, Edgar de Mello Filho (hoje jornalista e meio mala, mas um bota e tanto), Luizinho, Marivaldo Fernandes, Atila Sipos, Luiz Otavio Partenostro, Amandio Ferreira o gigante, Edson Yokishuma, Bob Sharp, Paulão Gomes, mais um monte de gente boa.
Nas formulas tinhamos os astros Piquet, Alfredo Guaraná Menezes, um certo Fernando Jorge, de meteórica carreira e que sumiu, Mario Patti, o Keko, a quem conheci muitos anos mais tarde em Londrina, em visita a meu amigo Thales Polis, Pedro Muffato, Mauricio Chulam, Antonio Castro Prado (grande piloto que faleceu tragicamente em treinos) Ronaldo Ely, são tantos os nomes que acabo me perdendo aqui e sinto falta de minhas revistas.
Em 1977 um certo General decidiu proibir as corridas de automóveis e motocicletas no Brasil de vido a uma das crises internacionais de petróleo, e os dirigentes e preparadores, unidos, acharam uma solução criativa: adotar o alcool como combustível o que salvou seus empregos e desenvolveu o programa do governo em vários anos.
Lá fora, Emerson já bi campeão mundial pela Mclaren em 1974, vice em 1975, decidiu tentar uma cartada arriscada: pilotar o carro de sua família, o Copersucar (denominado por seu patrocinador) que Wilsinho valentemente toreou pelas pistas do circuito mundial durante 1975, sem sucesso. Quando o carro foi lançado em fins de 1974, no salão negro do Congresso Nacional em Brasília, causou estupor, pois o projeto do grande Ricardo Divilla era nada menos que revolucionário, linhas aerodinâmicas muito limpas e belíssimo, inclusive em sua pintura. Na estréia na Argentina, Wilsinho bateu no começo da prova e o carro incendiou-se, fazendo com que Emerson, que viria a ser o vencedor do Grande Prêmio, chegasse a pensar em parar e ver como estava o irmão. No Brasil, o carro sofreu algumas modificações, especialmente na traseira e durante o ano sofreu de uma crônica falta de potência de seus motores Cosworth, muitos inclusive acreditavam em boicote ( eu me incluia entre eles, hoje não estou bem certo).
Pace já na Brabham tinha um ritmo de corrida invejável, mas padecia de falta de preparo físico e após vencer numa gloriosa tarde o Grande Premio do Brasil de 1975 em Interlagos, no autódromo que depois merecidamente teria o seu nome, não encontrava consistência para duelar pelo título. Em 1976 a Brabham do folclórico Bernie Ecclestone resolveu usar motores Alfa Romeo, muito potentes, mas pesados e beberrões e o ano foi perdido, a ponto de Reutemann abandonar a equipe e ir para a Ferrari após o quase fatal acidente de Niki Lauda em Nurburgring. Em 1977 Pace começou a temporada de forma auspiciosa, liderando na Argentina e finalmente chegando em segundo lugar, só perdendo a ponta por problemas de condicionamento físico. Mas infelizmente, após liderar o GP do Brasil, ele veio a falecer num triste acidente de avião com o amigo e também piloto Marivaldo Fernandes.
Nessa época tinhamos uma legião de pilotos brasileiros correndo na Europa, os destaques da mídia eram todos para Chico Serra fazendo uma boa campanha na Formula Ford inglesa - com uma invejável assessoria de imprensa ele ofuscava os bons resultados de Nelson Piquet na Formula 3 européia, o que fez com que este, resolvesse ir correr na Inglaterra na temporada de 1978 e enfrentar o prodígio Serra de igual para igual. Mas aí é outra história. Eu lia sobre os "outros " brasileiros, Mario Ferraris, Carlos Abdalla, Aryon Cornelsen Filho, Bolivar de Sordi, gente com menos exposição na mídia, mas que estavam batalhando um espaço no velho continente. Como eu percebia que jamais teria chance de correr aqui no Brasil, mesmo em karts, devido à minha falta de grana, sabia que a alternativa, por mais maluca que parecesse, seria ir para a Inglaterra, e por isso saboreava as narrativas da revista Autoesporte sobre os brasileiros que tinham menos evidência, mas que competiam nos vários campeonatos de Formula-Ford por lá. Mal sabia eu, minha hora de juntar-me áquela verdadeira legião de abnegados estava chegando...