segunda-feira, 7 de maio de 2012

REPOST: CONTINUANDO A SAGA, ORIGINALMENTE POSTA EM 12 DE AGOSTO DE 2009




Quando comecei este blog, em março, se não me falha a memória, pretendia falar de várias coisas, pois minha cabeça é multi-assuntos. Acabei me concentrando mais no automobilismo e tendo uma ótima aceitação. Narrei passo a passo o que me fez gostar tanto desse esporte singular, depois passei a descrever a epopéia de minha aventura pelas pistas européias na condição de piloto de Formula Ford, aspirante de Formula 1 (sonhar não paga nada e é gostoso....rs). Os meus posts sobre as sagas e desventuras eram os mais populares, mas dei uma parada proposital no final de maio, pois não queria caracterizar o blog como sendo "falar de mim, eu e eu mesmo". Almejava e almejo uma aceitação ampla como expert, como crítico, como jornalista especializado, com opiniões próprias e equilibradas. Acho que esse objetivo foi conquistado. Passada essa fase, vou portanto, voltar a narrar minha saga pessoal, que se não foi bem sucedida em me levar à Formula 1, foi muito rica e interessante no plano humano.

Retomando: na última postagem eu narrava como no final de 82 voltei ao Brasil de férias cheio de esperança, pois tinha encontrado um provavel patrocinador na empresa de um inglês casado com uma senhora brasileira, que havia recebido o convite para fazer o curso de pilotagem da Brands Hatch Racing School gratuitamente, e que o próprio Emerson Fittipaldi havia intermediado o empréstimo de um chassis de Formula Ford Van Diemen, da própria fábrica. Ou seja: as coisas estavam extremamente promissoras.
No Brasil, fiz alguns contatos com empresas de São Paulo, me lembro de haver passado horas brincando com uma máquina de escrever portátil a preparar um detalhado "Plano de Patrocínio" (tenho uma cópia em algum lugar). Não havia computadores pessoais, claro, e o jeito era datilografar e tirar cópias. Levei alguns foras, alguns "talvez" e outros nem me receberam. O Brasil era muito diferente naquele início de década de 80, a inflação galopante fazia com que as empresas tivessem muita cautela com investimentos, especialmente em moeda estrangeira. O retorno era incerto, e um caipira de Ourinhos dificilmente teria êxito, entendo isso claramente hoje, mas na época, não ser recebido, ou quando recebido ter que explicar o be-a-bá do automobilismo era frustrante. Mesmo com o sucesso de nossos campeões no exterior, Emerson e a esta altura Piquet, o brasileiro médio ainda não acompanhava as outras categorias, por falta de divulgação e cultura esportiva. Os jornais só davam notícias de futebol ( mudou um pouco, mas não muito), e ter que explicar as divisões das categorias de base, a progressão de carreira e as possibilidades era muito comum.
Voltei cheio de gás para o gelado inverno inglês no começo de 83, após algumas decepções pessoais que nem chegaram a me abalar, pois tinha o firme propósito de me concentrar em ser piloto. As decepções não tardaram: pressionado por dívidas enormes, a equipe Fittipaldi teve que cerrar suas portas, Emerson e Wilsinho entregaram tudo ao fisco inglês e ainda ficaram devendo muito (pagaram anos depois com o sucesso de Emerson nos Eua). O meu patrocinador em potencial foi vítima de um incêndio em sua fábrica de móveis para escritório e não poderia me apoiar financeiramente. Pelo menos pude fazer o curso de pilotagem (novamente, já que havia feito o Jim Russell no final de 80) e foi ótimo para contatos. Conheci pilotos que depois teriam um impacto grande no automobilismo: Julian Bailey, Damon Hill, e muitos outros. Conheci principalmente o chefe de instrução na escola, Tony Trimmer, um inglês magro e caladão, mas de respeitável currículo na carreira, tendo inclusive ganho o prestigioso Grande Premio de Monaco de Formula 3 em 70. Ele me afirmou categoricamente que eu era "material para Formula 1 ", o que aumentou minha confiança, e paradoxalmente, meu desespero, pois não conseguia sair do lugar.

Continua.

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