terça-feira, 19 de maio de 2009

UMA PEQUENA HOMENAGEM: NORMAN GRAHAM HILL




Dizem que o mundo não é um lugar justo, e, ao conhecer a história de Graham Hill, tenho que concordar com essa afirmativa. Sem nunca ter sido o melhor, o mais rápido, o mais completo piloto, ele conseguiu ser um vencedor num esporte de altíssimos níveis de exigência, demonstrando determinação, talento, persistência, resiliência e principalmente, um espírito esportivo e humano incomum, mesmo naqueles loucos anos 60 do século passado. A falta de justiça a que me refiro, é o fato de ele não ter tido tempo de aproveitar uma aposentadoria com sua linda família, e principalmente, curtir o campeonato mundial de seu único filho homem, Damon, muitos anos depois.
Ainda hoje, Graham Hill é o único detentor de uma honraria incrível: a tripla coroa do esporte. Ele venceu o campeonato mundial de Formula 1 (duas vezes, em 1962 com BRM e em 1968 com Lotus Ford), as 500 milhas de Indianápolis (em 1966 com Lotus) e as 24 horas de Le Mans (em 1972 em dupla com Henry Pescarollo com Matra).
Sua história pessoal está repleta de lances de superação, que me fazem admirá-lo ainda mais. Sempre tive a preocupação de entender as características e motivações que separam os grandes dos comuns, os campeões dos simples mortais. O esporte é um excelente laboratório de sociologia, onde podemos ver que os que conseguem lograr êxito, muitas vezes são aqueles providos de maior poder mental, determinação incomum e disciplina, não raro superando aqueles que "bafejados" por talento pelos deuses do destino, e que os desperdiçam ao não compreender as intrínsecas circunstâncias ligadas ao sucesso.
Hill serviu à Marinha de sua Majestade e depois de desligar-se do serviço militar foi trabalhar na empresa Smiths Instrumentos. Gostava bastante de motocicletas e diz a lenda, que por não saber dirigir automóveis, e querendo muito aprender, foi atraído por um anúncio da Brands Hatch Racing Schools oferecendo voltas no circuito pelo módico preço de 5 shillings. Tomou gosto pela coisa, trabalhou como mecânico para Colin Chapman, e aos vinte e cinco anos de idade estreou em competições  num Cooper 500 de Formula 3. Claro que os tempos eram muito diferentes de hoje, onde um mero garoto que está iniciando sua carreira no kartismo já dispõe de assessores de imprensa, massagistas, psicólogos et caterva. Sendo mecânico da equipe Lotus lhe possibilitou estrear na Formula 1 no Grande Prêmio de Mônaco de 1958, tendo que abandonar por falha mecânica. Em 1960 ele assinou com a equipe BRM e sagrou-se campeão mundial em 1962. Naquela época os ganhos dos astros das pistas não eram nem de longe parecidos com os dos de hoje, portanto eles tinha que correr em outras categorias em busca de prêmios e bônus por participação. Ele também venceu a prestigiosa prova Indianápolis 500 a bordo de uma Lola em 1966, ganhando grande prestígio e dinheiro na época. Hill era o melhor embaixador que o esporte poderia ter, pois era sociável, engraçado - de um jeito que os ingleses são muito bons - e demonstrava extrema habilidade em trabalhos de Relações Públicas.
Em 1967 ele voltou à equipe Lotus, ao lado de seu grande amigo Jim Clark. As mudanças de regulamento acontecidas a partir da temporada de 1966 (motores de 3 litros aspirados), fizeram com que a empresa Coswort lançasse o seu famoso V8 patrocinado pela Ford, motor que venceu inúmeras vezes nas décadas subsequentes. Após as trágicas mortes de seus companheiros de equipe Mike Parkes e Jim Clark (o grande nome da Formula 1 na época), ele assumiu a responsabilidade de liderar a equipe e venceu o campeonato mundial novamente em 1968. Nesse meio tempo ele estabeleceu um incrível domínio sobre a prova monegasca, vencendo-a cinco vezes no total (sendo superado apenas muitos anos depois pelo nosso Ayrton Senna).
Os carros da Lotus sempre tiveram a reputação de serem velozes mas muito frágeis, e um terrível acidente no GP dos Estados Unidos em 1969 quebrou suas duas pernas, afetando definitivamente sua carreira. Sua heróica recuperação, entre dores terríveis e seções de fisioterapia foi mais um capítulo em sua biografia de herói do esporte.

Continua.

6 comentários:

Henry disse...

BELO TEXTO:
"O esporte é um excelente laboratório de sociologia, onde podemos ver que os que conseguem lograr êxito, muitas vezes são aqueles providos de maior poder mental, determinação incomum e disciplina, não raro superando aqueles que "bafejados" por talento pelos deuses do destino, e que os desperdiçam ao não compreender as intrínsecas circunstâncias ligadas ao sucesso."

Pelo que sei, mais do que correr atrás do sucesso, Graham Hill preferiu viver com intensidade.

Cezar, recentemente no blog do Pandini, falando sobre Lotus e STP, achei essa foto de uma Lotus bem original:
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Lotus_56_STP_Oil_Treatment_1968_Graham_Hill.jpg
Algum detalhe sobre ela?

1abraço

Goddess disse...

Maravilha de texto, Cezar.... O Hill é um dos pilotos favoritos com certeza, como vc disse pela história dele e de sua família, já que o Damon é bastante criticado por uns, mas assim como o pai foi um exemplo de superação e volta por cima....
Bjos

Cezar Fittipaldi disse...

Henry, você me fez viajar no tempo, pois o Lotus 56 foi um dos mais fascinantes projetos do incrívelmente criativo Colin Chapman. Encontrei algo na Wikipedia, e vou revirar minhas revistas antigas (que se encontram em Ourinhos -eu moro em Bertioga) e prometo um artigo sobre o carro. A Formula 1 tem histórias e sub histórias muitas vezes mais fascinantes que as mais conhecidas e cristalizadas pela grande imprensa. Deusa, obrigado pelo elogio, e me lembro de ficar enchendo o saco do Damon, crivando-o de perguntas a respeito de seu pai, quando dividimos um quarto de hotel em Portugal, em 1985. Essa história eu deixo para depois também.

Henry disse...

Opa...
Damon...

Já diziam na TV Cultura:
"Senta Que Lá Vem a História"

Aguardamos, Cezar.

Com calma, é claro...

1abraço

Felipão disse...

clap clap clap

Hill eterno...

Bruno disse...

Grande texto, Cezar. Graham Hill é um dos meus favoritos e sempre foi um dos poucos que esteve a frente da Fórmula 1, tamanho era seu amor pelo esporte.

Realmente um grande piloto e seus feitos estão aí para provar, pena que se foi cedo e teria ainda mais a acrescentar ao mundo e a categoria.
Abraços.