sábado, 2 de maio de 2009

15 ANOS SEM SENNA: A CONSOLIDAÇÃO DO MITO



Com os testes realizados de maneira bastante satisfatória Ayrton Senna era um dos favoritos ao "draft" de novos pilotos para a Formula 1 naquele início de 1984, pois reunia talento, velocidade, carisma e valor comercial. Os grandes nomes da Formula 1 da época eram Nelson Piquet, já bi campeão, Niki Lauda, também bi campeão que havia abandonado o automobilismo para construir sua empresa aérea e depois retornou à bordo da Mclaren, Alain Prost, velocíssimo francês mas àquela altura ainda sem títulos, Keke Rosberg, rápido, marketeiro e já campeão em 82, e num plano um pouco inferior, Nigel Mansell (que á rigor não era levado muito a sério naquela altura como piloto postulante a um título mundial), Elio de Angelis, Rene Arnoux, Jacques Lafitte. Uma mescla de velha e nova gerações, e a chegada de Senna numa equipe média/pequena lhe oferecia a oportunidade ideal de aprender a lidar com as características da categoria sem muitas pressões. Senna passou direto das corridas de Formula 3, cujos carros tinham em média 165 hp, com corridas de no máximo 30 minutos de duração, para bólidos com mais de 500 hp, e corridas que beiravam as duas horas de duração.
O companheiro de Senna era o simpático venezuelano, ex-campeão mundial de motociclismo, Johnny Ceccoto, que não lhe faria frente, mas tinha já um ano de Formula 1. Senna testou um pouco no inverno europeu, e quando as equipes (a maioria delas) vieram ao Rio de Janeiro em janeiro para testar, Senna atraiu grande curiosidade da mídia nacional, mesmo com Emerson Fittipaldi testando um carro da fraquíssima equipe Spirit - que não resultou em nada. Eu estive com amigos no autódromo de Jacarepaguá para assistir aos testes, e fui com dois amigos cariocas. Eles se impressionaram a princípio com o fato de que ao apresentar minha carteira inglesa de piloto, nos foi permitido entrar no paddock. A admiração deles por mim aumentou, quando ao passarmos defronte aos boxes da Toleman, alguém gritou meu nome, e ao virar-me, era o próprio Ayrton, de macacões arriados, suado e tomando um pouco de água. Me dirigi a ele, pulando uma cordinha e apresentando-o aos meus amigos, que não se cansavam de repetir a "experiência" horas depois para outros amigos. Batemos um papo rápido e me lembro de desejar-lhe boa sorte e cheio de confiança afirmar: dentro de alguns anos estarei aqui também. Não era para ser, mas Ayrton estava prestes a escrever páginas inesquecíveis da história da Formula 1 e do automobilismo brasileiro.
O resto, como dizem, é história. Em seu primeiro ano ele já se destacou como um piloto acima da média, inclusive com aquele histórico segundo lugar em Mônaco. No ano seguinte transferiu-se para a equipe Lotus, ao lado de Elio de Angelis, pilotando em minha opinião o carro mais lindo de toda a história da Formula 1, aquela Lotus Renaut negra e dourada, contrastando bem com seu característico capacete amarelo. Lembro-me de uma corrida em Brands Hatch, em 85, eu competia na Formula Ford, o campeonato era patrocinado pela John Player, a mesma tabacaria que patrocinava a equipe Lotus, e além de diversas provas de categorias diferentes, a atração do evento seria uma tentativa de quebra do recorde do circuito Indy de Brands Hatch por Senna e sua Lotus dourada. Lembro-me dele ter vindo, cercado de jornalistas e puxa sacos, colocado o macacão, dado umas duas ou três voltas de aquecimento, o autódromo lotado, parou nos boxes (onde eu me encontrava também, na condição de competidor) ajustado algumas coisas no carro e ao voltar a pista, o locutor oficial de Brands, Brian Jones narrava entusiasticamente a volta da solitária Lotus negra fazendo aquele ballet bonito na aproximação das curvas. Logo na segunda volta ele pulverizou o recorde anterior levando a platéia à loucura. Foi realmente de arrepiar. Depois ele recolheu o carro aos boxes, deu algumas entrevistas e ao despedir-se me avistou ali no meio do bolo e veio me dar um aperto de mãos. Aquela foi a última vez que nos vimos pessoalmente, e ele ainda estava por estabelecer todos os seus recordes.
Ayrton tinha uma obcessão por velocidade, por atingir limites que mesmo em níveis costumeiramente elevados impressionavam. Eu vi muitos pilotos e me admirei com a qualidade técnica de vários. Mas em uma única volta lançada, aquela volta em Brands Hatch, há muitos e muitos anos atrás permanece em minha memória como a volta mais perfeita que tive a oportunidade de ver. Grande Ayrton!

8 comentários:

Henry disse...

Cezar,
Obrigado por nos dar uma carona nesta sua história.

1abraço

Bruno disse...

Grande Cezar. Mais um belo episódio da sua história.
Parabéns, uma bela homenagem.
Abraços.

Antonio Manoel disse...

Cezão
Já se vão 15 anos todo mundo se lembra desse dia.
Embora vc nunca morresse de amores pelo Senna,,,
Abraço
Manoel

Ron Groo disse...

Opa, demorei para vir, mas quando venho fico com a impressão de que demorei demais.
Teus textos são legais pra caramba.
E está em andamento uma bela homenagem ao Senna.
Nunca fui dos maiores fãs dele, mas não posso lhe negar genialidade e talento. Poucos tiveram tanto. Talvez Clark, Fangio...
De qualquer forma eu prefiro lembrar dele tomando aquela ultrapassagem do Piquet na Hungria, ou quando ele venceu o Gp do Brasil e seu carro foi engolido pela multidão. De repente ele emerge de braços erguidos do meio de todos. Linda imagem.
Valeu vou voltar sempre e colocar um link pra cá.

Francisco J.Pellegrino disse...

Nas suas palavras temos a lembrança de um dos maiores mitos do nosso país....parabéns pelo blog. Curiosidade: mora em Bertioga ?

Tohmé disse...

Cezar, muito interessante seu blog.
Gostei muito da primeira parte - ff1600

Cezar Fittipaldi disse...

Gratos pelos elogios, todos vindos de pessoas que respeito na blogosfera. Estive fora por uns dias, mas espero poder compensar. Pelegrino, moro em Bertioga sim.

abraços

blogdorogerio disse...

Realmente aquela Lotus era LINDA!!! Airton é uma saudade eterna! Abraço.