domingo, 7 de fevereiro de 2010

DOMINGUEIRAS.




Apesar dos testes coletivos realizados no início da semana passada na Espanha, pouco aconteceu de verdade, nas pistas, que mereça ser comentado. Fora das pistas, a lenta e pública agonia da equipe Campos - que corre o risco de nem disputar seu primeiro Grande Prêmio por conta de algum cálculo super otimista de seu proprietário, Adrian Campos. Me lembro que na década de 70, quando do anúncio do projeto do Formula 1 brasileiro, pelos irmãos Fittipaldi, Orestes Berta, um respeitado construtor de carros esportes e preparador de motores argentino, aproveitou a ocasião para anunciar o Formula 1 argentino. Deixem-me tentar contextualizar: a Argentina e o Brasil sempre foram rivais no campo esportivo, mas naquela época, havia uma clara percepção que os nossos "hermanos" eram superiores em um monte de coisas, entre as quais a qualidade de vida, a tecnologia, a forma como eram europeizados. Não sei se a proposta de Berta era séria ou apenas um blefe, mas certamente colocou em perspectiva a magnitude do projeto, de se fazer um carro de competição, no topo da pirâmide tecnológica, fora dos grandes centros, Europa e Estados Unidos. Aliás, mesmo os americanos e japoneses, faziam seus carros de Formula 1 no velho continente (caso das equipes Shadow, e Honda). Portanto, de certa forma, o anúncio do carro de Berta roubou um pouquinho do brilho do carro brasileiro.
Aí é que está o "pulo do gato": conheço gente que é capaz de anunciar um feito sem ter a menor noção de como concretizá-lo. Conheço muitos, e chamo-os de marketeiros do nada. Sabe aquele amigo que "quase" foi baterista de uma banda de rock que "quase" gravou um cd? Ou aquele outro que jogou nos juvenis do Palmeiras, ou São Paulo e "quase" passou ao profissional? Ou quantos que são "quase" advogados, ou "quase" engenheiros? Gente assim, de certa forma está sempre a sugar os méritos de quem realmente faz. Uma coisa é você ter vontade, desejo, e principalmente condições de fazer algo. Sonhar é de graça, e por isso mesmo, deveria ser particular.
Não estou colocando o Campos no mesmo barco que o Berta, mas de certa forma, a inabilidade em reunir os principais elementos técnicos e principalmente financeiros para decolar o projeto, mostram que ele é mais "marketeiro" que dono de equipe de Formula 1. O carro seria ( ou será) fabricado pela Dallara. Se eu ou qualquer um conseguir uns cinquenta milhões de euros e encomendar um carro para a Dallara, eles certamente ficarão muito felizes em fabricá-lo e vendê-lo. Colocar o projeto na estrada, o carro nas pistas e ter consistência é outra história. Berta pelo menos tinha conhecimento técnico para fazer um carro, mas ficou no sonho. Os Fittipaldis fizeram tudo: uma fábrica, criaram uma cultura automobilística, competiram, compraram e absorveram outra equipe (a Wolf), tentaram e caíram de pé. Ponto para eles.
Muitos outros, sem alarde, de mansinho foram chegando e se estabelecendo. A saga de Frank Williams é a prova que é possível sair do final dos grids e ser campeão. Os misteriosos e aparentemente muito bem financiados "piratas sérvios" da igualmente misteriosa Stefan GP estão à espreita, na tocaia, para ocupar o lugar da Campos. Muito estranho este mundo de hoje.
E parece que o Bruno Senna é mesmo pé frio: após praticamente assinar um contrato com a equipe Honda, esta desiste de participar da temporada de 2009, deixando-o a pé e atrasando sua errática carreira. Agora, após a pompa do anúncio de sua contratação, uma verdade emerge: ele falava sério quando dizia que não estava pagando para correr. O duro é achar alguém que pague para a Campos correr!

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