segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O DILEMA DO FANTASMA QUE NÃO QUERIA TER MORRIDO


Olha....antes de começar a (re) escrever esta postagem: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem! Escrevi duas vezes, na primeira, ao salvar, toquei algum botão invisível que simplesmente deletou tudo o que havia escrito. Na segunda, acabou a energia elétrica e novamente, tudo se perdeu. Talvez não devesse tentar a terceira vez, mas como dizem os ingleses : " third time luck!"
Vamos lá. Destino. Implacável, caprichoso, acho que é meio gay, pois age como as mulheres, é impulsivo, às vezes birrento, guarda mágoa. Mas quando decide premiar alguém, hummmm, sai de baixo, porque esta pessoa vai ter muita sorte na vida.
Um dia, no final da década de sessenta, nasceu na Alemanha um menino queixudinho. Quis o nosso amigo Destino, que este viesse parar justamente numa família de classe média germânica ( diferente da nossa classe média, mas aí já é tema para outra crônica) e que o pai dessa família tivesse como emprego ser zelador de um kartódromo municipal. O menino era persistente e sempre gostou de treinar, praticar, aperfeiçoar, como bom alemão. Começou a dar umas voltinhas nos karts dos garotos mais abastados, testando chassis, amaciando motores, "queimando" pneus. Meninos ricos geralmente são preguiçosos. Esse menino a quem o Destino resolvera premiar, começou a correr e a se destacar. Para os carros foi um pulinho e os resultados continuavam a ser bons, muito bons. Nosso amigo Destino, de novo, interfere e decide que uma famosa montadora, da estrela de três pontas, após muitas décadas afastada das pistas de competição, resolvesse criar um programa de apoio a jovens pilotos. Claro que nosso amigo queixudinho era um deles, mas havia outros de maior destaque, como Frentzen e Wendlinger.
Apareceu uma oportunidade de correr na Formula 1, novamente graças ao Senhor Destino, quando uma besta quadrada (e menino rico e filhinho de papai) chamado Bertrand Gachot, piloto da Jordan, resolveu dar uns sopapos num motorista de taxi em Londres. Preso, foi obrigado a perder uma corrida e a montadora da estrela de três pontas resolveu bancar uma corrida para seu protegido, para ver o que dava. Deu. Próxima etapa, compraram o lugar de um brasileirinho bom de braço e ruim de marketing, Roberto Moreno, na Benetton. Lá corria outro brasileiro bom de braço e ruim de marketing, mas com um currículo mágico, Nelson Piquet.
O queixudinho foi bem, e encontrou sua nêmesis, na figura do muito competente e pouco ético Flavio Briatore. Outro componente que reunia doses demais de talento e de menos de ética, Ross Brawn (olha o destino aí novamente) também estava lá.
O maior ídolo e ponto de referência era um terceiro brasileiro, bom de braço e de marketing, e quis o Destino, esse implacável senhor, que uma curva chamada Tamburello estivesse no meio do caminho, sinalizando o fim.
Carros mandrakeados, uma boa dose de malandragem (brasileira por osmose) e um tanto de desonestidade (manobra sobre Damon Hill) e nosso amigo queixudinho tornou-se bi-campeão mundial. Nesse interîm, a maior das equipes atravessava um período de vacas anoréxicas, e precisava de algum catalizador para levantar a moral e os resultados do time. Destino: nosso amigo. Alguns anos de muito treino e determinação, montando a equipe técnica de seus sonhos e nosso herói começou a demolir todos os recordes de seus antecessores. Permanecia um, do mais admirado e invejado, aquele brasileiro que parou na Tamburello: o de incríveis sessenta e cinco pole positions. O Destino ainda lhe colocou dois companheiros de equipe, adivinhem, brasileiros. O primeiro, um ser cordial e por demais dócil, foi fácil de domar. O segundo, inexperiente e promissor, seria o sucessor. Aposentou-se no auge, nosso amigo, com marcas incríveis: sete campeonatos mundiais, noventa e uma vitórias em Grandes Prêmios, pole positions, voltas mais rápidas, voltas na liderança, ele tem todos os recordes.
Outro dia uma revista inglesa publicou uma pesquisa realizada com um monte de ex pilotos de Formula 1, sobre quem seria na opinião deles, o maior. Quis o Destino que o eleito fosse aquele brasileiro que não foi batido, aquele que parou na curva que não deveria existir. Isso foi demais para nosso amigo. Ele tem tudo: a glória, os números, os fatos. Só que sendo tão escravo do Destino, e tão obcecado em ser o primeiro, que resolveu bater outro recorde: morrer no auge, como aquele outro piloto em cujo funeral milhões choraram.
Nosso amigo vai deixar uma confortabilissima aposentadoria, uma vida de príncipe para tentar forçar o Destino a lhe dar o lugar que é seu de direito. Quer ser o maior mártir da história. Assinar um contrato milionário com a marca da estrela de três pontas, num time dirigido por aquele mesmo Ross Brawn que esteve presente nos seus sete títulos, pode apenas ser coisa do.....Destino!

Um comentário:

Tortugo disse...

Cadê a continuação da corrida no céu?
Nem ia te perguntar, mas já que o assunto é um pouco metafísico, valeu o gancho.

Um abraço!

Daniel