domingo, 18 de março de 2012

35 ANOS SEM MOCO



Hoje eu acordei meio assim, sei lá. Rebobinei o tempo em minha cabeça e parei quando cheguei a esta exata data em 1977. Eu era adolescente, cheio de espinhas no rosto e sonhos na cabeça. Um coração que parecia prestes a explodir de ansiedade em devorar o futuro. Mas, adolescentes são assim. Na verdade, eu era meio diferente da maioria dos meus pares. Aos dezessete anos queremos namorar, pensamos em que faculdade iremos fazer e em nosso caso, interior, cidade pequena, sem recursos ou boas escolas, para onde iremos no ano seguinte. As conversas giravam em torno de temas comuns aos jovens. As meninas já namoravam "sério" e alguns de nós também. Não era meu caso, tinha planos muito diferentes, que envolviam tentar ser piloto, de preferência na Europa. Apenas meus amigos mais chegados sabiam deles, pois se outros soubessem, eu seria ridicularizado.
Meus ídolos eram os pilotos de Formula 1, ao contrário da maioria dos meus amigos que seguiam avidamente o futebol. Eu gostava do Emerson, claro, do Wilsinho e do Carlos Pace. Wilsinho já havia parado de correr e era o chefe de equipe da Copersucar. Emerson havia aderido ao sonho familiar e patriótico e passava por momentos difíceis em sua carreira. Nossas esperanças, como brasileiros estavam depositadas nos (bons) ombros do Moco. Parecia que desta vez ele finalmente desencantaria aquele talento enorme que o fazia um campeão mundial em potencial. A Brabham tinha começado bem o ano, com um segundo lugar no enorme calor da Argentina, e apesar do motor Alfa Romeo ser beberrão e pesado, proporcionava boa potência ao fantástico chassis projetado pelo gênio Gordon Murray.
Mas não era para ser. Moco, amigo dos amigos, coração puro, pé direito pesadíssimo, tão discreto que, apesar de ser um ídolo em nível mundial, pouquíssimo aparecia na mídia não-esportiva. Nada de revistas de fofocas, aparências despropositadas. Era um cara família, casado com uma mulher belíssima e igualmente discreta, Elda. Tinha dois adoráveis filhos pequenos, Patrícia de quase seis anos e o caçula Rodrigo.
Amigo de seus amigos e com um grande amigo ele se foi. Marivaldo Fernandes também deve ter sido um sujeito e tanto. Ambos estavam num pequeno avião monomotor que ia em direção a uma fazenda de Marivaldo em Araraquara. Mas o mal tempo fez com que a viagem terminasse em desastre.
Eu recebi a notícia em casa. A princípio, não entendi bem. Falou-se em acidente aéreo e eu achava que Moco estava na Europa. Naquele fim de semana, se bem me lembro, foi realizada a tradicional prova extra-campeonato "Race of Champions" em Brands Hatch. Por algum motivo, Moco não participou da prova. Pena. Um vazio se abriu nos corações daqueles que como eu amavam as corridas de carros.
Hoje faz trinta e cinco anos daquele dia fatídico. Já não sou mais uma adolescente cheio de sonhos, mas sim um homem maduro. Alguns sonhos foram realizados, outros não. O balanço de minha vida é legal, mas ainda penso nos amigos que ficaram pelo caminho. Pace nem sabia que eu existia, mas pelo simples fato dele ser um de meus ídolos, eu o considerava um amigo. Sei que de algum lugar, ele está orgulhoso da linda família que construiu, da carreira que fez e principalmente da imagem de amigo dos amigos. Valeu e muito, Moco!
Um homem feliz!

Um comentário:

Felipe disse...

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