sábado, 26 de março de 2011

EM BUSCA DO SONO PERDIDO


Quando eu era pequeno ficava impressionado ao pensar que no Japão eles estavam exatamente 12 horas à nossa frente. Meu pai dizia: agora no Japão, já é noite! Eu ficava matutando com meus inocentes botôezinhos infantis: como pode? Pois bem, veio a globalização, os benditos satélites e nos habituamos a "ver" o que acontece do outro lado do mundo em tempo real. Lembro-me do primeiro GP do Japão em 1976: decisão de um campeonato histórico, onde o heróico Niki Lauda, retornado do coma e ungido por uma extrema unção depois de seu acidente em Nurburgring, lutava contra o bravo playboy James Hunt, com o Mclaren que "era" do Emerson - já em sua aventura copersuquiana. Meus olhos teimavam em fechar-se e além de driblar o sono, precisa esquivar-me dos conselhos de minha mãe, para que fosse dormir, pois no dia seguinte tinha missa, etc. Assisti a um filme, ao corujão e entre goladas de café, a hora finalmente chegou. A transmissão era a lenha, as imagens vinham com um "lag", mas dava para perceber o dilúvio que caía naquele lado do planeta. A largada foi atrasada, as dúvidas se haveria ou não a corrida eram grandes. Finalmente decidem: vai ter corrida! Oba, ajeito-me melhor no sofá e com duas voltas ou menos a decepção: Niki Lauda arrasta-se de volta para os boxes. Inicialmente pensou-se em problemas mecânicos com sua Ferrari, mas não: o astuto austríaco decidira poupar sua vida, após tudo o que havia passado.Demorou anos para eu entender a coragem que ele teve naquele momento, e mesmo perdendo aquele título para o James Hunt, veio a ganhar mais dois.
Toda essa introdução para descrever os treinos desta madrugada na Austrália. Na verdade, não há muito a falar: hoje já não temos jet lag, a qualidade das imagens é excelente, a internet nos traz informações literalmente do cockpit dos carros e sabemos até o ritmo das batidas cardíacas dos pilotos.,
Nessa madrugada super plugada, o menino prodígio "Chuck"( sim, ele, o boneco assassino, não há uma grande semelhança física? - medo!) simplesmente não tomou conhecimento da concorrência e colocou um temporal na frente de seu mais próximo adversário, Lewis Hamilton, numa surpreendentemente competitiva Mclaren (após treinos pré-temporada pouco auspiciosos). Em terceiro um despondente Mark Webber, seguido por Jenson Button ( para quem eu tenho os novos pneus serão muito benéficos, devido ao seu estilo suave de condução). A seguir um decepcionado "Ego" Alonso com sua Ferrari que não anda. Um bom Petrov em sexto nos faz pensar em Kubica, deitado em sua cama de hospital, xingando até a oitava geração de quem lhe convidou para participar daquele malfadado rally. Os top ten foram completados por "Barbie" Rosberg, Felipe Massa - de longe o mais errático dos pilotos, apanhando de seu pneus e de sua ansiedade para superar Alonso -  Koba-san com a Sauber e Buemi, com a promissora Toro Rosso. 
Rubens Barrichello cometeu um erro no início do Q2 e rodou, colocando sua bela Williams firmemente plantada na brita. Podemos esperar uma boa corrida de recuperação, já que seu ritmo era bom. Seu novo companheiro de equipe, Pastor "Chaves" Maldonado ainda não mostrou a que veio. Gostei do Sergio Perez e do Paul di Resta e fiquei com pena da Hispania. Todo mundo e seu cachorro está malhando a equipe espanhola, pelo seu pífio desempenho etc. Acontece que os caras, com pouca grana se apresentaram, embarcaram, abriram as caixas, montaram os carros, foram para a pista. O esporte é cruel e muito competitivo. Ao contrário de muitos críticos, eu admiro o esforço deles e torço para que encontrem um ou dois segundos para entrarem dentro da regra dos 107%. Falar, criticar é fácil. Fazer como a tal Equipe USA, pegar a grana do incauto argentino e não dar as caras também. Torço pelos espanhóis.
Palpite para a corrida? Pelo ritmo, Vettel. Pela consistência, Button. Por instinto, estratégia, Alonso. Veremos logo mais.

2 comentários:

Mauricio Morais disse...

Cezar, curti e me identifiquei demais com suas lembranças. Belo texto.
E hoje, com o peso dos anos, ficar acordado é mais difícil que na época em que nossas mães nos mandavam dormir, he, he, he.

Rui Amaral Lemos Junior disse...

Também li e gostei.