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Em 1988/89 se você não fosse fã de Senna ou Prost a Formula 1 seria chata também? |
Faz tempo que quero escrever sobre esse assunto: a noção equivocada que muitos têm de que hoje as corridas de automóvel, mais especificamente de Formula 1 são piores que as do passado. A visão romântica de que "as coisas eram melhores então" não se sustentam por várias razões e eu vou tentar expor meu ponto de vista aqui. Claro que, sendo subjetivo, não tenho a pretensão de ser o dono da verdade e nem "lacrar" nada. Eu acompanho a Formula 1 via revistas e relatos desde a década de 60. Com a ascensão de Emerson Fittipaldi a TV brasileira passou a transmitir as corridas a partir do glorioso GP de Mônaco de 1972. Continuava acompanhando a "cobertura" via revistas Autoesporte e Quatro Rodas e ficávamos ansiosos para a chegada do exemplar mensal nas bancas. A Placar passou a ter uma cobertura razoável também, e como era semanal e chegava às terças-feiras, muitas vezes as comprávamos também...
Deixando de rodeios, vou fazer uma pequena demonstração de como a Formula 1 de hoje é muito mais competitiva. Vamos pegar, aleatoriamente a temporada de 1966, onde houve uma importante mudança de regulamento, os carros passaram a ter 3000 ao invés dos 1500 de antes. Ou seja, hipoteticamente, ganharam o dobro de potência. Os astros eram Jim Clark, Graham Hill, John Surtees, Jack Brabham, Dan Gurney, Lorenzo Bandini e um jovem Jackie Stewart. Rindt estava começando e mais tarde viriam Ickx e outros. O primeiro grid foi na Bélgica, a temporada daquele ano teve apenas 9 corridas. O pole position foi o John Surtees a bordo da Ferrari e seu tempo foi 3.38. O décimo quinto colocado foi o Dan Gurney com seu Eagle com o tempo de 3.57. Somente quinze carros participaram daquela prova. A diferença entre o pole e o último colocado foi quase vinte segundos! O circuito era grande e na corrida apenas 4 carros chegaram ao final com a vitória de Jackie Stewart a bordo de uma BRM. Na próxima corrida, na França, a diferença também foi abissal e apenas cinco carros cruzaram a meta. Havia pilotos bons, mas seus carros quebravam muito. Havia pilotos médios e pilotos fracos. Na corrida da Alemanha, devido ao fato da pista ser enorme, precisaram completar o grid com carros de Formula 2. As condições dos boxes e dos padocks eram para lá de precárias. Vou postar uma foto que vi hoje no facebook, já de 1972 no GP da Inglaterra:
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O Polytoys de Henry Pescarollo que teve estréia infeliz e breve! Fotos Stuart Dent via Facebook. |
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A Mclaren de Peter Revson. No meio do paddock sem privacidade e nem frescuras. |
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O carro do campeão do mundo, Jackie Stewart sendo manobrado por um mecânico.
Pois bem: vamos avançar um bocadinho mais. Ao longo das próximas temporadas diversas corridas foram perdidas (e ganhas) a poucos quilômetros do final por falhas mecânicas. Os pilotos não tinham o preparo físico exigido e geralmente diminuíam o ritmo no final das provas. A preocupação com o preparo físico só foi se intensificar em meados da década de 70, e mesmo assim tínhamos pilotos playboys, como James Hunt que bebia e fumava o tempo todo. Havia boas corridas e más corridas. A corrida da Africa do Sul de 1967 por pouco não foi vencida por um piloto semi amador, a bordo de um carro particular (John Love - Cooper), se não fosse falta de gasolina no final. Ainda assim, ele parou nos boxes e chegou em segundo para o mexicano Pedro Rodriguez a bordo de uma Cooper oficial. Sempre havia um grupo de pilotos super eficientes, nas várias décadas em que acompanho a Formula 1 e também, os coadjuvantes.
Hoje em dia, mesmo o piloto que alinha em último no grid ( geralmente George Russell e a Williams, ou seu companheiro Latifi) são vencedores e campeões nas formulas de acesso. Russell venceu a Formula 2 em 2018 batendo o badalado Lando Norris e o brasileiro Sergio Sette Camara. Não tem como o piloto cometer um erro crasso e não ser assistido por milhões, via câmeras onboard e telemetria implacável. Quero deixar claro que não estou malhando a Formula 1 de outrora. As coisas eram como eram, e só foram se profissionalizar mesmo nos anos 70 com a intervenção do gênio Bernie Ecclestone que viu o potencial do que tinha em mãos. Muitos daqueles que dizem que a Formula 1 de hoje é chata e que não há competitividade, vibravam com o domínio esmagador da Mclaren com Prost e principalmente, Senna, no final dos anos 80, começo da década de 90. Ou quando o Schumacher dominou a categoria por anos a fio. A supremacia de uma determinada equipe por alguns anos não é coisa nova. Aconteceu com Lotus, Mclaren, Williams, Ferrari e agora a Mercedes é a mais eficiente. No início da década passada a Red Bull ganhou quatro campeonatos em seguida com Vettel. Então, qual é o problema? A Formula 1 ou a nossa visão subjetiva? É impossível não admitir que tivemos corridas excelentes nos últimos anos, mesmo que lá na frente as Mercedes estivessem ditando o ritmo. Porque corrida boa não se faz necessariamente só na frente. As disputas dos pelotões intermediários e traseiros podem ser muito empolgantes. Mesmo as disputas na pré classificação que ocorriam nos anos 89/90 eram muito acirradas, ainda que poucos estivessem de pé para assistir.
Temos pilotos pagantes? Sim, sempre tivemos. Hoje o acesso à Formula 1 é muito mais caro, pois o esporte é altamente profissionalizado. No passado tínhamos situações em que pilotos quase folclóricos, sem a necessária carteira ou habilidade chegavam a participar, ou tentar participar, de alguns Grandes Prêmios. Hoje isso seria impossível. Para obter a super licença é necessário acumular 40 pontos e estes são atribuídos através de um complexo sistema via Formulas de acesso.
A pessoa tem todo o direito de achar isso ou aquilo. Mas, francamente, dizer que antigamente as corridas eram melhores porque seu piloto favorito ganhava quase todos os domingos é muita miopia. Melhor torcer por Lewis Hamilton ou Max Verstappen então. Quanto á falta de brasileiros no grid não me afeta muito, pois aprendi a gostar de corridas de carros muito antes do boom brasileiro encabeçado por Emerson, Piquet e Senna. Quando a luz vermelha apaga ainda sinto um friozinho na barriga e passo a curtir cada ultrapassagem e cada manobra espetacular. Quem já esteve lá dentro sabe das complexidades que existem para se andar de forma competitiva numa pista num nível tão alto. A telemetria denuncia quaisquer erros ou barbeiragens, não tem jeito.
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2 comentários:
Sim Cezar, sempre foi assim.
Um abraço.
Obrigado Rui. Somos de outra época mas sabemos entender as mudanças!
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