Uma temporada tão longa quanto a que acabamos de assistir demanda uma reflexão calma para que se obtenha algum tipo de conclusão em relação aos vencedores ou perdedores. Lando Norris campeão, resta saber se vai ser um campeão múltiplo ou um piloto que agarrou com unhas e dentes a talvez sua única oportunidade, ainda que em detrimento de seu companheiro de equipe e impulsionado (favorecido) por táticas de sua equipe. Mesmo não sendo um Lance Stroll, cujo pai comprou-lhe uma equipe de Formula 1, é inegável que Lando seja o queridinho do manda chuvas da Mclaren, Zack Brown. Talvez pelo tempo que esteja na equipe (desde 2019), talvez pelo poder financeiro da família Norris, quiçá por alguma afinidade pessoal. O fato é que, indiscutivelmente, Lando é um bom piloto. Rápido, comete poucos erros e, principalmente, admite suas eventuais fraquezas de teor psicológico, o que eu considero louvável.
Eu já escrevi aqui que, a despeito do que os críticos de sofá digam, os atuais pilotos de Formula 1 têm uma qualidade altíssima, pois a telemetria não mente e dominar os bólidos com tão pouca distância de tempo entre eles é para poucos. Portanto, de Colapinto para cima (eu o cito apenas por ser o único, além de Doohan a não pontuar - mas é um bom piloto), os atuais integrantes do grid são pilotos altamente capazes e talentosos.
Max Verstappen é, obviamente, fora da curva. Suas qualidades aliadas a sua precocidade fazem dele um demolidor de recordes, tanto em termos de títulos ( sete para cada, Hamilton e Schumacher - Max aos vinte e oito anos de idade tem "meros" quatro!) quanto de vitórias (incríveis 105 de Lewis). Seu ano foi excelente e, mesmo quando estava a mais de cem pontos atrás na tabela do campeonato, sua competitividade e resiliência mostraram o seu melhor.
Oscar Piastri termina o ano com uma inegável sensação de "poderia mais", a tal ponto que em determinada altura do campeonato, sua vitória parecia ser favas contadas. Ajudado e muito pela lassidão de sua equipe que, não me venham com blá blá blá, favoreceu seu companheiro (a situação de Monza foi patética, pois após um pit stop desastroso da Mclaren com o carro de Norris, Piastri o ultrapassou e teve que devolver a posição na pista, custando pontos preciosos e, principalmente, uma inegável ranhura em sua auto confiança. Se meu próprio time me faz favorecer outro piloto, ainda que este seja meu companheiro de esquadra, com quem posso contar?). Oscar é um piloto veloz, frio, eficiente e, se seu companheiro de equipe fosse outro seria certamente, também, campeão mundial de 2025. Eu lamento a decisão da equipe Mclaren em interferir nos resultados do campeonato, mas não foi a primeira e, provavelmente não será a última vez que o campeão é definido pelos cartolas.
Os demais? Vamos lá: George Russell - ano sólido, liderou a equipe Mercedes com autoridade e obteve duas vitórias, o que lhe era possível dentro das circunstâncias. A ponto da equipe não sentir saudades de seu golden boy, Lewis Hamilton. Seu companheiro, o jovem novato Andrea Kimi Antonelli, alternou bons desempenhos com atuações irregulares ao longo do ano. Seu erro desastroso na penultima etapa do campeonato no Qatar, onde após resistir bravamente durante dez voltas aos ataques de Lando Norris, escorregou numa curva, entregando de bandeija a quarta posição ao inglês e, esses dois pontinhos foram decisivos para a conquista do campeonato. Os adeptos da teoria da conspiração acham que foi uma manobra deliberada e, devo confessar, eu tenho sérias dúvidas. Óbviamente, se a ultrapassagem não houvesse sido consumada, na última prova a Mclaren faria o Piastri parar na pista para que Lando o ultrapassasse e ficasse com o título de qualquer maneira. Mas, foi chato demais esse "Timo Glock" revival!
Charles Leclerc nao ganhou nenhuma corrida e obteve apenas uma pole position, mas dominou amplamente seu badalado e caro companheiro de equipe, o sete vezes campeão Lewis Hamilton. Este, teve um ano frustrante e, pela primeira vez na carreira não subiu ao pódio durante toda uma temporada. Não dá para tirar conclusões precipitadas. Lewis foi e é um grande campeão, e sim, sempre dispôs dos melhores equipamentos, e, quando não, suas atuações não foram estrelares. Mesmo assim, adaptar-se à cultura da Ferrari é uma das coisas mais difíceis e temos uma longa lista de campeões que passaram por lá e não foram capazes de encantar os tiffosi.
A equipe Williams teve um ano bastante digno, inicialmente com o bom Alexander Albon e, após um início titubeante, o sólido Carlos Sainz que foi capaz de obter dois terceiros lugares para o time levando-o novamente ao pódio. As perspectivas são boas para a próxima temporada, uma vez que, aparentemente, a equipe começou a desenvolver seu novo carro para o novo regulamente bem cedo e os resultados podem surpreender. Tem boa estrutura e dois bons pilotos. Veremos.
Se a Williams foi uma boa surpresa, o mesmo não se pode dizer da Aston Martin. Seus desempenhos oscilaram bastante e os pontos conquistados foram mais em decorrência da boa qualidade em corridas de seu principal piloto, a estrela Fernando Alonso. Lance Stroll alternou boas apresentações com corridas patéticas, como é de seu feitio. A contratação do gênio Adrian Newey é uma ótima perspectiva para a equipe, mas talvez o tempo de Alonso já tenha passado e eu não consigo ver Stroll como um piloto capaz de vencer corridas e campeonatos. Talvez a eventual contratação de Piastri, claramente sem espaço na Mclaren seja a solução para a Aston Martin, uma vez que não existem agentes 007 na vida real.
Nico Hulkenberg é aquele funcionário sólido, que não falta, não fica doente, com quem se pode contar sempre. Fez um bom campeonato e marcou bons pontos para a equipe Sauber, que vinha de um ano desastroso. Gabriel Bortoleto é claramente talentoso, mas seu ano de estreia deixou a desejar, gostem ou não seu fãs brasileiros. Começou timidamente, demorou para encontrar velocidade, conquistou alguns pontos e teve desempenho pífio no Brasil e no Qatar. Não vou passar pano aqui pois fatos são fatos. E o fato é que, se repetir esse desempenho, não terá lugar no grid em 2027. Mas, como eu disse antes, talento ele tem, resta canalizar e obter os resultados que pode e deve.
A seguir duas boas surpresas do ano: Isaak Hadjar, em minha opinião o melhor estreante do ano e Oliver Bearman, com enorme potencial. a Equipe Racing Bulls entregou um carro decente e seus dois pilotos tiveram boas atuações e muitos pontos. A destacar a recuperação psicológica do Liam Lawson, que após apenas duas corridas como companheiro de Max Verstappen na equipe Red Bull foi demovido para a equipe B. Um piloto menos capaz teria desmoronado de vez, mas Lawson conseguiu reerguer-se e mostrou seu valor. Méritos a ele. o companheiro de Bearman na Haas, Esteban Ocon, já é piloto estabelecido e, se lhe derem um bom carro irá obter ótimos resultados. Só desconfio que ele não contava com a velocidade do novato britânico que o ofuscou em diversas ocasiões.
Yuki Tsunoda foi a infeliz vítima da síndrome do segundo carro da Red Bull e fica difícil defender o diminuto japonês pelas atuações que ele teve pela equipe. Suas performances no ano anterior na equipe B, no entanto, mostraram um piloto veloz e competente, mas o fato de ser apoiado integralmente pela Honda e esta estar de saída da equipe não ajudaram em sua permanência e ele foi o único piloto a não continuar na F1 para a próxima temporada.
E por último, a desastrosa temporada da equipe Alpine, cuja falta de potência dos sub desenvolvidos motores Renault era evidente. Pierre Gasly é um bom piloto, acima da média, e foi capaz de conquistar 22 pontos para a equipe. Quanto a Franco Colapinto, é um bom piloto, mas sua permanência na máxima é única e exclusivamente por causa dos soldos de seus patrocinadores e o temperamento singular de Flavio Briatore. Tendo subido de categorias com muita rapidez, Colapinto não parece ser capaz de emular os resultados de pilotos precoces antes dele, tais como Kimi Raikkonen e o próprio Max Verstappen. Queimar etapas é sempre perigoso e, resultados na pista não mostram o porquê de Colapinto ter mantido seu assento na categoria.
De qualquer maneira, acaba uma temporada, fazemos balanço, mas nossas mentes já estão sintonizadas no que há por vir. Farei outro texto sobre isso em breve. Até mais!




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