GP da África do Sul 1977
Como pode um não-saudosista sentir saudades? Mistério! Quando olho essa
foto, mergulho numa viagem íntima e vertiginosa em direção ao passado, mais
precisamente a segunda metade dos loucos e vibrantes anos setenta: vejo um
rapaz tímido, com espinhas demais e confiança de menos, óculos fora de moda
(eram mais baratos), uma calça boca de sino (ridículas em retrospecto, mas
fazia sentido então) ensimesmado num mundo que não o compreendia e muito menos o
acolhia. Poucos amigos (alguns até hoje para provar a resiliência das amizades
verdadeiras), um gosto diferente para esportes. Pois é, o rapaz adorava
corridas de automóveis, de Formula 1 em particular. E tinha um sonho que o
resgataria da mediocridade a que estava condenado se continuasse a se conformar
com as migalhas que o destino lhe destinava: pilotar uma daquelas máquinas,
dominar o bólido em seu limite e quem sabe, além. O tempo provou que sonhos
impossíveis têm gradações e etapas, como degraus de uma enorme escadaria. Se
não chegou a pilotar uma dessas máquinas teve pelo menos a sensação
inesquecível de largar no meio de 30 carros e disputar uma freada no final de
uma reta, em Silverstone, Brands Hatch e outros circuitos menos famosos. Mas,
voltando à foto em questão, ela é emblemática por ser a última prova do valente
piloto galês Tom Pryce, que num acidente bizarro, impensável nos dias de hoje,
atropelou um jovem e inexperiente bandeirinha de apenas 17 anos de idade que
atravessou a pista para socorrer o outro Shadow, do companheiro de Pryce, Renzo
Zorzi. Na foto que imortalizou o momento vemos a traseira fugaz do então
campeão, James Hunt e sua McLaren, seguido por dois outros campeões: o valente
Niki Lauda, ainda ostentando as marcas de queimadura que desfiguraram seu rosto
no ano anterior em Nurburgring, com sua linda Ferrari, com a qual se sagraria
campeão mundial pela segunda vez ao final da temporada para dar um belo “pé na
bunda” do Commendatore e Jody Scheckter com o sensacional Wolf Cosworth,
projeto de Harvey Postelatwaite, que havia vencido na estréia na Argentina. No
lindo Brabham vermelho de nº 8, está o saudoso Carlos Pace, Moco, na que seria
também, sua última corrida, antes de falecer num acidente de avião no Brasil,
tendo ao seu lado um dos mais originais carros de corrida da história, o
Tyrrell de seis rodas pilotado pelo intrépido francês Patrick Depailler. Bem no
meio, no Copersucar amarelo está o bicampeão Emerson Fittipaldi e o futuro
ainda parecia ser promissor para ele e para a equipe brasileira. Eu poderia
ficar horas digredindo sobre esta foto em particular, que suscita tantas
memórias e no final, a ilusão de capturar um momento em nossa fugaz passagem
terrena nos torna melancólicos e....saudosistas! Uma salva a todos os grandes
campeões que povoaram a imaginação de tantos sonhadores como eu, e também
àquele rapazola de 17 anos que no futuro iria provar coisas interessantes que
nem sonhava naquele momento.
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