The real deal: os protagonistas de uma história de rivalidade, pero no mucho! |
Caro amigo: eu sou um perfeccionista em relação à certas coisas. Respeito aos fatos históricos, por exemplo. Sei que Hollywood dá uma "forçadinha" de mão em muitas histórias, sejam adaptações de filmes ou biografias. Sei que eles devem ter as razões deles ( talvez a falta de sofisticação intelectual do público doméstico (norte-americano) seja o maior motivo), talvez eles gostem mais de ação do que de palavras, talvez....
O fato é que eu esperei muito pelo filme. Cheguei a postar aqui neste espaço cerca de três traillers promocionais do mesmo. Eu era um imberbe garoto de 16 anos de idade quando a história acontecia em tempo real e acompanhava cada passo. Guardadas as proporções, não tínhamos internet, a cobertura televisiva era precária (ainda mais que o Emerson tinha deixado a vitoriosa McLaren para ir para a quase iniciante Copersucar), o Pace ainda estava se adaptando a uma grande equipe (e sofrendo tentando fazer o motorzão Alfa de 12 cilindros funcionar — sofreu tanto que o próprio Carlos Reutemann, intocável primeiro piloto da equipe, sem dotes de acertador, acabou indo para a Ferrari no lugar do moribundo e depois ressuscitado Lauda). Então a gente acompanhava como podia. Jornais, revistas ( Autoesporte — naquele ano numa decadência lascada, tenho os exemplares para provar isso — a burocrática Quatro Rodas, um jornalzinho "Esporte Motor" e Folha e Estadão). Eu era um vampiro por informações (era?), e seguia diariamente os progressos de recuperação de Niki Lauda, agonizando naquele hospital.
Detalhe: eu era fã de ambos, Lauda e Hunt. Depois de Emerson, de Pace e do Wilsinho, que àquela altura já havia parado de competir na Formula 1, eu gostava do Hunt e do Lauda. E do Arturo Merzario. Mas aí é outra história, aquela coisa de gostar dos Don Quixotes. Eu tive o privilégio de conhecer pessoalmente tanto o Hunt quanto o Lauda, muitos anos depois.
Por que não gostei do filme? Oras....porque ele é mentiroso e mal feito. Primeiro: os dois não competiram na Formula 3 como adversários. Aliás, acho que o Lauda nunca correu na Formula 3, se não estou enganado ele foi direto da F Vee para a Formula 2. E daí, como piloto pagante para a Formula 1. Estreou no GP da Austria de 71 e depois fez toda a temporada de 1972 com um lamentável March 721, arrastando-se muito atrás do primeiro piloto e estrela do time, Ronnie Peterson. Naquele mesmo ano, o Moco estreou com um March mais velho, o 711, da equipe do Frank Williams, como companheiro do já experiente Henry Pescarollo e logrou marcar 3 pontos. Lauda? Nenhum.
No filme Lauda estréia na Formula 1 pela BRM, direto. Exige condições melhores devido ao fato de ter acertado seu carro melhor que o primeiro piloto Regazzoni. Nada mais falso. Ele entrou na BRM graças a uma artimanha (eu tenho o livro em inglês "To Hell and Back"): ele havia prometido um patrocinador a sir Louis Stanley, dono da equipe. O primeiro piloto era Jean Pierre Beltoise (nem citado no filme) e o segundo Regazzoni, com Lauda no terceiro carro. Lauda impressionou pela velocidade, capacidade de acerto e dedicação. Tanto é que ao voltar para a Ferrari, Regazzoni o indicou ao comendador que acabou contratando-o.
Lauda é retratado como mau caráter. Hunt como o mocinho-playboy. Maniqueísmo puro. Ambos eram grandes pilotos, Lauda muito mais que Hunt e ponto. O filme é mal feito, mal dirigido e apenas a atuação de Daniel Bruhl, como Lauda salva um pouco. AS cenas de corridas são fracas, e o GP do Japão então, nem se fala.
Certamente eu esperava mais. Mais cenas de impacto, com os recursos tecnológicos que temos hoje. Mais verossimilhança com fatos reais. Menos "historinhas" de mocinho e vilão. Por isso não gostei e não recomendo. Lamento.
Nunca acreditar nas propagandas de Hollywood! |
4 comentários:
Assisti ao filme faz pouco, bem pouco em um streaming da internet.
Sinceramente, o meu maior medo era que o filme fosse apenas "crashs" e mais "crashs" feitos com computação gráfica.
Me espantou que a parte "humana" tivesse mais valor. Hollywood não prima por gostar de partes humanas de histórias.
Ao que você notou, bem... sou um tanto leigo na história dos dois, então não vou duvidar do que escreveu. Acredito e ponto.
Por fim, gostei do filme, mas me emocionei mesmo foi assistindo Cine Holiúde, do cearense Halder Gomes.
Gostei bastante do filme. Ocorreram erros e alguns foram citados por você, mas a qualidade do filme passa por cima disso. Até porque está bem claro que o filme é baseado em fatos reais e não um documentário sobre a temporada de 1976 da F1. Como cearense... Rush é melhor do que Cine Holliudi. Mas gosto não se discute.
Opa...comentários de amigos e leitores eu nem discuto. Gostei do Cine Holliudi, uma proposta diferente e a prova que o Brasil é muito mais que as pasteurizações globais que a Rede Bobo nos faz engolir.
Quanto aos fatos, eles foram totalmente distorcidos em favor de um enredo que nem é tão bom assim. Linda a atriz que fez a Marlene, valeu o filme.....rs
detestei. vi outro dia e achei um pastiche que pode satisfazer quem não conhece a história . Enfim, cada um na sua. Também não recomendo.
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