sábado, 6 de outubro de 2012

O outro cara!



Tenho que ser muito subjetivo aqui: vou buscar nos recantos da minha memória a magia daqueles anos que eram inocentes e prometiam muito. O Brasil era o país do futuro e era bom acreditarmos naquilo, pois o presente de então era bem básico mesmo.  Os generais estavam no poder, a imprensa era restrita (lembra algo?), as estradas péssimas, havia muito por fazer em todos os campos.
Na área esportiva, havíamos ganhado há pouco o tricampeonato de futebol no México, evento supervalorizado pela então incipiente Rede Globo e demais veículos de comunicação. Tínhamos um tenista razoável em nível mundial (Thomas Koch),  conquistávamos duas ou três medalhas de bronze nas Olimpíadas, vôlei era apenas uma miragem distantes, e o basquete masculino já havia passado de seu zênite.
Eis que surge, do nada, de quase combustão espontânea um jovem paulistano e se sagra campeão mundial de Formula 1: Emerson Fittipaldi! A glória de Emerson, sua natural habilidade midiática e as dimensões realmente heroicas de seu feito (mais tarde feitos) devem mesmo ser enaltecidas. Mas eu estou aqui para falar de outro cara. O outro cara.
Eu era fã de carteirinha do Emerson, aliás, ainda sou. Ele brilhava intensamente, conquistando vitórias e legiões de seguidores. Então, na esteira deste sucesso surgiram dois escudeiros: seu irmão Wilsinho, excelente piloto, nunca devidamente valorizado e o Moco!
Numa época em que se valorizavam estrangeirismos e nomes pomposos, o “superbrasileiro José (há nome mais tupiniquim que este?). Eu acompanhava a carreira do Moco desde os tempos em que corria de Karman Guia pela equipe Dacon. Ele sempre tímido e reservado, colecionava inúmeras vitórias e boas colocações. De jeito retraído socialmente, era um leão por trás do volante, sempre agressivo e veloz. Eu sinceramente, nunca achei que aquele cara quietão, meio gorducho iria correr na Europa e muito menos, ter o sucesso que teve.
Comecei a notar o Moco mais atentamente quando ele se sagrou campeão de um dos torneios de Formula 3 britânicos, logo em sua primeira tentativa. “Nada mal, pensei”.  Ele e Wilsinho e outros tantos rumaram para a velha Inglaterra para tentar um lugar ao sol (meio contraditório, já que por aquelas bandas o sol é escasso). Fritz Jordan, Luizinho Pereira Bueno (saudoso Peroba), Chiquinho Lameirão, Giu Ferreira, Lian Duarte e muitos mais....
Mas Pace, mesmo em sua humildade, era um piloto diferenciado. Logo chamou a atenção de gente mais qualificada e foi guindado, junto com Wilsinho, para a Formula 2. Uma escolha infeliz de equipe (Pigmee) não mascarou seu talento abundante e já no ano seguinte, 1972, ano da glória de Emerson, ele e Wilsinho ascenderam à categoria máxima, em condições muito mais modestas. Wilsinho pegou uma terceira e velha Brabham, então uma equipe intermediária, com um decadente Graham Hill e um ambicioso e bem financiado Carlos Reutemann como companheiros de equipe.
Já Moco, coitado, foi para uma equipe que se tornaria grande nas décadas seguintes, a Williams, mas que estava em fase inicial e com pequenos patrocínios, com carros velhos e defasados, e pior, que quebravam a um olhar mais duro. Um ano difícil e que, no entanto trouxe alguns pontinhos, muito mais difíceis de obter naquela época onde apenas os seis primeiros pontuavam. Dali, em 1973 foi para equipe do irascível John Surtees, onde penou para acertar um carro veloz, mas que quebrava muito e tinha pneus pouco competitivos. Cansado de sofrer com a personalidade difícil do “Big John’, Moco foi finalmente contratado pela equipe Brabham, já sem Wilsinho (que estava a construir o Copersucar no Brasil) e Hill”. A equipe era toda voltada em torno de Carlos Reutemann, já um piloto vencedor e uma personalidade também difícil.
Com sua atitude franca e honesta, não demorou muito para Pace conquistar a afeição e o respeito dos mecânicos e os bons resultados não tardaram a aparecer. Seu momento de glória foi, claro, no GP do Brasil de 1975, onde conquistou sua primeira e única vitória na Formula 1 defronte sua plateia caseira, em Interlagos, e ainda por cima, com dobradinha com Emerson em segundo. O ano trouxe mais resultados excelentes e já era evidente que apesar de Reutemann estar há mais tempo na equipe, Pace era mais querido e mais veloz. Quando Bernie Ecclestone fez a besteira de assinar um contrato de fornecimento de motores com a Alfa Romeo  em 76, Reutemann, desanimado com os parcos resultados, abandonou o barco e  foi correr na Ferrari, após o acidente de Lauda em Nurburgring. Pace encarou o enorme desafio de liderar a equipe, o desenvolvimento do novo motor e principalmente, manter a motivação em alta. Num esporte de alto nível, a parte psicológica é fundamental para a obtenção de sucesso.
Apesar de ser um superstar, bem pago, primeiro piloto de uma das grandes equipes de Formula 1, Pace nunca deixou de ser o “Moco”, leal aos seus amigos de sempre, e principalmente, muito competitivo como piloto em qualquer tipo de carro. Correu pela Ferrari no mundial de marcas, obtendo uma histórica segunda colocação na prova 24 Horas de Le Mans em 1973 ao lado de Arturo Merzario. Voltava com frequência ao Brasil e aqui competiu contra os melhores, e venceu, em carros iguais, os inesquecíveis Maverick V8, preparados pelo velho amigo  Greco. Piloto de Formula 1, estrela, bem pago, era no entanto aqui no meio dos seus que ele se sentia mais feliz.
Quis o destino em seus inexplicáveis desígnios, que nosso Moco partisse em maio de 1977, quando finalmente o pesado Brabham Alfa que ele penosamente desenvolveu ao longo da temporada de 1976, estava em ponto de bala. Moco faleceu num acidente de avião, junto com seu amigo de longa data Marivaldo Fernandes. Deixou viúva a bela Elda e os filhos pequenos Patrícia e Rodrigo. Viveu pouco, mas foi feliz e deixou a marca do talento, da humildade e da lealdade a seus amigos. As novas gerações teriam muito a se beneficiar em mirar em exemplos como os dele. Hoje seria seu aniversário.....e lá do céu, observando os filhos e a nova netinha Francisca, Moco certamente estará orgulhoso de um legado honrado e vitorioso que nos deixou!

2 comentários:

INFORROCK disse...

MAIS UMA BELA POSTAGEM
PACE ERA "COOL" ...
ÓCULOS RAYBAN...
PATROCÍNIO DA BRAHMA...
CORRIA NO CARRO MAIS BONITO DA F1...
VENCEDOR!!!
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CEZAR, IMAGINE O SEGUINTE:
- PACE NÃO MORRE EM 1977
- RENOVA MAIS UM TEMPÃO COM A BRABHAM
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QUE FIM LEVARIA NOSSO NELSON PIQUET??
RSRSRS...

[ ]S

Pé de Chumbo disse...

Conheci o piloto do avião dele, o "Sargento" Oliveira.
Ótimo piloto, mas parece que teve dificuldades devido a condições meteorológicas adversas.