sábado, 11 de abril de 2009

MINHAS REMINISCÊNCIAS PESSOAIS (6)






Com 1979 rapidamente chegando ao fim, uma década de profundas transformações no mundo e no automobilismo se encerrava. A começar com o primeiro (e felizmente até agora, único) campeão post-mortem da Formula 1, o austríaco Jochen Rindt, que faleceu durante os treinos para o GP da Itália em Monza em 1970. O surgimento de novos pilotos e novas nações no cenário do automobilismo mundial, com destaque para o Brasil e seu bi campeão Emerson Fittipaldi. De brasileiros na categoria máxima tivemos ainda Carlos Pace, Wilsinho Fittipaldi, Alex Dias Ribeiro, Ingo Hoffman e já no finalzinho da década, em 1978 o candango veloz Nelson Piquet. O Grande Premio do Brasil realizou-se de forma ininterrupta desde 1973, valendo para o campeonato, inicialmente em Interlagos e a partir de 1978 por alguns anos no autódromo de Jacarepaguá no Rio de Janeiro. Nosso automobilismo doméstico passou por altos e baixos, mas o fator que iria marcar toda a historia subseqüente da humanidade e do automobilismo, foi a Primeira Guerra do Golfo em 1973, que provocou o choque do petróleo, catapultando o preço do barril de cerca de 2 dólares para mais de 12, sextuplicando seu valor em questão de semanas.

Na Formula 1 começava a era Bernie Ecclestone, uma baixinho narigudo inglês, ex-traficante de armas que ao adquirir a equipe Brabham em 1971 visualizou a possibilidade de ganhar muito dinheiro com um esporte de nível mundial em importância e potencial, mas proviciano em sua administração. Habilmente, Bernie foi costurando acordos, criando a FOCA (associação de construtores que antes disso não tinham a menor representatividade política) e ganhando espaço. Ao antever a importância da televisão para a propagação do esporte Bernie enxergou longe e as transmissões via satélite, criando uma verdadeira aldeia global ajudaram muito a popularizar um esporte de elite, que hoje é discutido em rodinhas de bar, nos clubes e em todos os lugares nos mais diversos pontos do planeta.

No final da década de 70 a Lótus com seu carro de efeito solo, estava arrasadora, dando a Mario Andretti um titulo de certa forma fácil, pois seu único adversário real era seu companheiro de equipe Ronnie Peterson, que por razões abordadas anteriormente, não estava realmente em seu caminho. As concorrentes foram rápidas e hábeis em copiar as soluções aerodinâmicas pensadas por Chapman, um gênio que dividia opiniões em relação a seu caráter e cuja morte, ocorrida em dezembro de 1982 ainda hoje é cercada de mistério.

A década de 80 prometia muitas inovações tecnológicas, pois a montadora francesa Renault, desde finais de 77 vinha apresentando seu carro de motor turbo (segundo o regulamento vigente na época os motores podiam ser normalmente aspirados com até 3000cc ou turbo aspirados com até 1500 cc). Frágil no início, mas extremamente veloz quando a potencia máxima era atingida, o bólido francês dirigido por Jean Pierre Jabouille sinalizava o caminho para os demais concorrentes, fazendo com que Ferrari, BMW, Hart, e a própria Coswort, então dominante com seus famosos V8, desenvolvessem motores de configuração similar.

Os carros eram frágeis mecanicamente, comparados com os de hoje. Num Grande Premio da era moderna, segundo o regulamento de 2009 os pilotos tem que usar um mesmo motor por 4 corridas, isso seria impensável. Era comum corridas serem perdidas por quebra de motores a poucas voltas do final, suspensões eram mais frágeis, priorizava-se o desempenho sobre a resistência. Várias corridas eram lideradas pelos carros equipados com motores turbo, especialmente aquelas realizadas em altitude elevada, como era o caso de Kyalamy na África do Sul, e num determinado momento, lá por 1983, os motores convencionais não tinham mais nenhuma chance frente aos turbos, chegando mesmo a ser criada uma espécie de sub classe para motores aspirados na Formula 1.

Novos pilotos foram chegando ao circo: Elio de Angelis, milionário italiano, pagante na decadente Shadow, mas que viria a mostrar seu valor de grande piloto no Lótus, Jan Lammers, promessa holandesa nunca realmente confirmada, Didier Pironi, Alain Prost, René Arnoux, Patrick Tambay (não por acaso, franceses, apoiados por um grande programa de incentivo a novos talentos da estatal de petróleo Elf), Gilles Villeneuve, fenômeno canadense de intenso mas efêmero brilho no céu da Formula 1, Riccardo Patrese, Andréa de Cesaris, os brasileiros Chico Serra e Raul Boesel, muitas caras novas para tentar atingir o mais alto degrau da escada.

Eu continuava a torcer, mas agora sabia que iria torcer mais de perto e que tentaria arranhar as maçanetas das portas que poderiam me levar de um lado ao outro do guard rail da carreira de piloto.

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