terça-feira, 22 de setembro de 2020

 


GP da África do Sul 1977

 

Como pode um não-saudosista sentir saudades? Mistério! Quando olho essa foto, mergulho numa viagem íntima e vertiginosa em direção ao passado, mais precisamente a segunda metade dos loucos e vibrantes anos setenta: vejo um rapaz tímido, com espinhas demais e confiança de menos, óculos fora de moda (eram mais baratos), uma calça boca de sino (ridículas em retrospecto, mas fazia sentido então) ensimesmado num mundo que não o compreendia e muito menos o acolhia. Poucos amigos (alguns até hoje para provar a resiliência das amizades verdadeiras), um gosto diferente para esportes. Pois é, o rapaz adorava corridas de automóveis, de Formula 1 em particular. E tinha um sonho que o resgataria da mediocridade a que estava condenado se continuasse a se conformar com as migalhas que o destino lhe destinava: pilotar uma daquelas máquinas, dominar o bólido em seu limite e quem sabe, além. O tempo provou que sonhos impossíveis têm gradações e etapas, como degraus de uma enorme escadaria. Se não chegou a pilotar uma dessas máquinas teve pelo menos a sensação inesquecível de largar no meio de 30 carros e disputar uma freada no final de uma reta, em Silverstone, Brands Hatch e outros circuitos menos famosos. Mas, voltando à foto em questão, ela é emblemática por ser a última prova do valente piloto galês Tom Pryce, que num acidente bizarro, impensável nos dias de hoje, atropelou um jovem e inexperiente bandeirinha de apenas 17 anos de idade que atravessou a pista para socorrer o outro Shadow, do companheiro de Pryce, Renzo Zorzi. Na foto que imortalizou o momento vemos a traseira fugaz do então campeão, James Hunt e sua McLaren, seguido por dois outros campeões: o valente Niki Lauda, ainda ostentando as marcas de queimadura que desfiguraram seu rosto no ano anterior em Nurburgring, com sua linda Ferrari, com a qual se sagraria campeão mundial pela segunda vez ao final da temporada para dar um belo “pé na bunda” do Commendatore e Jody Scheckter com o sensacional Wolf Cosworth, projeto de Harvey Postelatwaite, que havia vencido na estréia na Argentina. No lindo Brabham vermelho de nº 8, está o saudoso Carlos Pace, Moco, na que seria também, sua última corrida, antes de falecer num acidente de avião no Brasil, tendo ao seu lado um dos mais originais carros de corrida da história, o Tyrrell de seis rodas pilotado pelo intrépido francês Patrick Depailler. Bem no meio, no Copersucar amarelo está o bicampeão Emerson Fittipaldi e o futuro ainda parecia ser promissor para ele e para a equipe brasileira. Eu poderia ficar horas digredindo sobre esta foto em particular, que suscita tantas memórias e no final, a ilusão de capturar um momento em nossa fugaz passagem terrena nos torna melancólicos e....saudosistas! Uma salva a todos os grandes campeões que povoaram a imaginação de tantos sonhadores como eu, e também àquele rapazola de 17 anos que no futuro iria provar coisas interessantes que nem sonhava naquele momento.