sexta-feira, 8 de maio de 2009

VELHA INFÂNCIA

Velha Infância

 

Você é assim 
Um sonho pra mim 
E quando eu não te vejo 

Eu penso em você 
Desde o amanhecer 
Até quando eu me deito 

Eu gosto de você 
E gosto de ficar com você 
Meu riso é tão feliz contigo 
O meu melhor amigo é o meu amor 

Pra gente cantar 
E a gente dançar 
E a gente não se cansa 

De ser criança 
Da gente brincar 
Da nossa velha infância 

 

Era uma vez a história de dois meninos. Um, negrinho e magrinho, lépido e feliz, pobre de dar dó, mas isso não lhe importava, pois na favela em que vivia havia um enorme campo de terra, onde todas as tardes ele era o rei. Jogava com os da sua idade, com os mais velhos, com os adultos e sua alegria era proporcional à sua habilidade com a bola nos pés. Muitos vaticinavam um futuro para ele como jogador de futebol profissional, mas sua sábia mãe sempre lhe dizia: um homem tem que ter profissão, e sem saber, parafraseava o grande Fernando Pessoa: eu sou da altura do que sonho. Paulo hoje vive em em Brasília, é soldado do corpo de bombeiros, casado, feliz, pai de um casal. Quando lhe perguntam se não se arrepende de não ter tentado a vida no futebol, responde rápido: não era para ser e sei que estou melhor assim. Sua infância foi feliz e sincera, sua vida é normal e saudável e ele nem de longe, desconfia da sábia decisão que tomou.

Outro menino chama-se Nelson e nunca teve opção. Filho de esportista multi-milionário, famoso e exigente, foi o escolhido entre outros seis irmãos para carregar o nome (pesado) do seu pai, e quiçá, repetir e superar seu destino vitorioso nas pistas de corrida da vida. Nunca teve uma infância propriamente dita, pois precisava comer pouco, manter-se em forma, treinar e correr de kart, viajar, sempre tendo em perspectiva quem ele era, e principalmente o que ele era! Sempre cercado de puxa-sacos, assessores, massagistas, pessoas lhe dizendo o que fazer e o que falar, sua biografia não poderia ser mais diferente da de seu pai, que sujou as mãos de graxa, dirigiu Kombis caindo aos pedaços pelas estradas esburacadas do Brasil, morou dentro de um velho caminhão na Europa para economizar e investir o pouco dinheiro de patrocínio na melhoria de seu carro de Formula 3. Ele, mal entrou na Formula 1 pela porta da frente de uma equipe grande, ganhou de presente um jatinho particular, mimo de seu orgulhoso pai.

O menino pobre curtiu sua dura infância. O menino rico, espera um dia poder desfrutar de uma, alguma infância. Por enquanto, arrasta-se de autódromo em autódromo como que para abreviar seu sofrimento, e a exemplo de outro menino, este o Jesus, no famoso poema do gênio Fernando Pessoa, “ fugiu do céu para brincar com ele:

Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se longe.”

 

Infância, velha ou nova, é tudo.

 

 

 

Um comentário:

Stênio Campos disse...

Caraca!!!

Essa tocou fundo.
Belo texto. Bela mensagem.