quarta-feira, 25 de abril de 2012

RESPOSTAGEM: FINALMENTE UM PILOTO. PILOTO QUER CORRER. MÃOS A OBRA. PUBLICADO EM 15 DE MAIO DE 2009





Volto a Londres e à dura vida de proletário. Na verdade nada de que me queixar, se nos três primeiros meses trabalhei como lavador de pratos e camareiro, além de eventuais bicos, à essa altura já estava, graças ao meu "guardian angel" Mário, trabalhando na IMO, orgão da ONU responsável pelos oceanos. Emprego legal, divertido, pagava razoavemente bem, e principalmente, me garantia a estadia legalizada no Reino Unido!
O ano de 1980 chega ao fim e eu perscrutava as páginas finais da revista "Autosport", seção de classificados, para ver se conseguia alguma oportunidade, alguma equipe contratando futuros campeões mundiais de Formula 1, quem sabe! Claro, o  mais comum eram anúncios de carros de corrida usados à venda, alguns profissionais se oferecendo, equipes mostrando suas estruturas e por aí vai. No entanto, haviam alguns anúncios de "Hire a Formula Ford for cheap" - alugue um Formula Ford barato, e eu comecei a anotar os telefones, sem ainda ter a coragem para ligar, afinal a temporada já havia terminado e não havia corridas acontecendo. 
No início de 1981 comecei a ir assistir as corridas, especialmente Brands Hatch, pois era próxima a Londres e eu podia ir de trem. Já contei aqui as passagens das primeiras provas do Ayrton Senna, onde eu ficava "sapeando" nos boxes, amparado por minha carteira provisória de piloto inglês e muita lábia brasileira. Conheci outros pilotos e potenciais pilotos, e também chefes de equipes, mecânicos, e se bem que meu inglês era paupérrimo, alguma coisa já dava para entender e me fazer entender. O problema é que eu ganhava cerca de 450 libras esterlinas por mês, que era um belo salário, mas o aluguel de um Formula Ford velho, era por volta de 300 libras por corrida, que durava em média dez, doze minutos. Claro que as grandes equipes, como a Van Diemenn, do Senna, cobravam cerca de vinte mil libras por temporada, incluindo treinos, inscrições e tudo o mais. Totalmente fora de meu alcance financeiro.
Lá por abril, maio, eu vi um anúncio na revista Autosport, de um tal de Richard Ward (não esqueço o nome do maledeto, mesmo quase trinta anos depois) que tinha um Van Diemen 80 (razoavelmente novo, portanto). Liguei para o cara, marcamos de nos encontrarmos em um pub, ele era jovem (uns 30 anos no máximo) e me disse que havia tentado ser piloto, mas que tinha vocação mesmo para gerenciar carreiras de outros, que como eu, tinham mais talento para a coisa. O inocente aqui, acreditou e conversamos bastante, eu cheguei inclusive a ir a sua casa, conheci sua esposa, etc. Na verdade, o carrinho dele era um Van Diemenn 78 azulzinho, malhado e mais batido  que carro do Andrea de Cesaris em final de temporada, modificado para modelo 80.
Bom, para encurtar a história, resolvi fazer minha estréia, com a carteira provisória eu tinha que fazer 6 corridas nacionais (não podiam ser em campeonatos internacionais, portanto) e completar todas, obtendo as assinaturas dos fiscais, além de levar no carro uma placa amarela com a letra L em preto (learner= aprendiz), humilhante, mas útil. Marcamos para eu testar o carro num dia de semana em um pequeno autódromo chamado Lydden Hill, bem perto do litoral, ao sul, pista que hoje pertence á Mclaren. Pistinha de morro, pequena, seletiva, uma delícia. Peguei o trem, alguém me apanhou na estação, quase duas horas de Londres, e a surpresa: como haviam 3 corridas de Formula Ford no programa, haviam uns 3 coitados pagando para dividir o mesmo carro no mesmo evento: um sujeito baixinho e mal humorado, bem mais velho, um negão gordo (que imaginei teria que ser colocado no carro antes da carenagem, para caber dentro) e yours trully, o caipira aqui.

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