domingo, 10 de janeiro de 2010

DIGRESSÕES DOMINGUEIRAS E MUITO PESSOAIS





Chamou-me a atenção, recentemente, ter lido em mais de um site as declarações do ator norte-americano Alec Baldwin que se considera um fracassado. Só pelo fato de ter sido marido da belíssima Kim Basinger no auge de sua beleza, apesar do final melodramático do relacionamento, já o retiraria da lista dos fracassados em minha opinião. Mas, vamos adiante. Um homem que aos cinqüenta e um anos de idade estrelou produções dirigidas por gente de muito prestígio em Hollywood, que foi indicado ao Oscar e venceu o Globo de Ouro ( para séries de TV), jamais deveria se sentir assim. A menos que... È aí que reside o problema. Seres humanos são criaturas complexas e como sempre afirmo em minhas palestras, cada um de nós tem um história pessoal única e intransferível. Para um garoto nascido numa comunidade pobre oriundo de uma família humilde, chegar a freqüentar um curso superior e possuir uma casa própria é um passo e tanto. Para o filho de um super astro do futebol, como Pelè, ter sido goleiro titular do time do Santos, pode não ter parecido o suficiente e o levou a trilhar caminhos menos nobres (Edinho). Espera-se do filho de um tricampeão mundial do quilate de um Nelson Piquet, no mínimo um número igual de títulos, mas a coisa não é bem por aí. O tetracampeão Alain Prost tem um de seus filhos, Nicholas, tentando se estabelecer como piloto profissional há anos, e ele ainda está bem distante de chegar à Formula 1. Os filhos de outros tri-campeões igualmente tentaram e não foram bem sucedidos: Geoff, Gary e David Brabham eram pilotos talentosos, mas sem impacto algum na categoria máxima. E o que dizer dos dois filhos de Niki Lauda? Mathias se arrastava nas provas de GP2 e continua a envergar (mal) o nome da família nas provas de DTM. Paul Stewart também tentou e o máximo que conseguiu foi uma vitória na Formula 3 inglesa, antes de perceber que seus principais atributos estavam no gerenciamento de carreiras. Subsequentemente marcou um gol de placa ao derrotar um câncer prematuro e continua a desfrutar uma vida produtiva ao lado de seu pai, Sir Jackie Stewart e sua bela mãe Helen. Por esse prisma, portanto, Nelsinho até que não se saiu tão mal.
Para aqueles que criticam Damon Hill, considerando-o piloto inexpressivo (opinião contrária à minha, pois ninguém ganha 22 Grandes Prêmios por acaso), há que se ponderar. O cara começou a carreira tarde, em meio a um monte de dificuldades, e só alcançou a Formula 1 após os 30 anos de idade. Mas o que isso tem a ver com a história de Alec Baldwin? Tudo, pois trata-se de expectativas e resultados. Quando Emerson Fittipaldi deixou sua São Paulo natal em meados de 1968, se nada houvesse acontecido, se o dinheiro tivesse acabado e sua carreira idem, ele provavelmente teria voltado e se estabelecido como próspero empresário. Ninguém o cobraria por nada, afinal, não havia parâmetros anteriores. Quando seu irmão Wilsinho foi para a Europa e não conseguiu o mesmo nível de sucesso, a pecha de "fracassado" logo começou a ser ventilada. Idem para o sobrinho Christian (filho de Wilsinho) que apesar de carreira mais que vitoriosa nas categorias de base, e apresentações muito decentes na Formula 1 ainda é considerado um "piloto menor". As expectativas em relação a ele eram parecidas com as que hoje se concentram em Bruno Senna. Complicado. Dependendo do degrau da escada de onde você começa, a cobrança pode ser insuportável. Bem fez Jayson, filho homem mais velho de Emerson, que jamais quis competir com as expectativas e a sombra do pai, e vive feliz na Flórida com sua família e sua carreira ligada as artes. Muitos filhos de pais famosos tentam emular os sucessos e as glórias de seus progenitores, mas nem todos conseguem atingir um grau satisfatório de resultados na jornada.
Portanto, cada um de nós estabelece uma meta de sucesso de acordo com o nosso pedigrée e nossa capacidade. Algumas dessas metas são realistas, outras absurdas. Esperar que o filho de Tiger Woods supere os recordes de seu pai num campo de golfe parece irreal, tão absurdo quanto as peripécias do mesmo entre quatro paredes!

3 comentários:

Daniel Médici disse...

É geralmente muito ingrato esse lastro edipiano que alguns pilotos precisam carregar dentro de seus capacetes quando estão em um cockpit. Ainda mais trágicas são as carreiras dos pobres devorados que não foram capazes de decifrá-lo!

Rui Amaral Lemos Junior disse...

Muito bom Cezar, Baldwin interpretou um corretissimo Preston Tucker dirigido por Copolla e muitos outros bons papeis. A volta de Schumi mostra que nossas expectativas sempre são maiores que nossas realizações.
Gosto muito qd vc está domingueiro, sou seu fã.

Abs

Rui

De Gennaro Motors disse...

Ola Cesar

voltei a ativa com o blog....apos um periodo de ferias

abraço, Fernando