Faz tempo que não faço comentários sobre corridas aqui ou mesmo no meu canal do youtube. Mas já estava sentindo saudades, portanto, vamos lá:
Atuação dos pilotos:
Norris - apesar de toda as controvérsias e da teoria da conspiração de que estaria sendo beneficiado pela equipe em detrimento de seu companheiro (entre os quais eu subscrevo, mas falarei disso mais adiante), fez duas grandes corridas, sem erros e com pinta de campeão. Sem muito carisma, a bem da verdade, mas isso é subjetivo e não tira o brilho de suas últimas atuações. Parece que as supostas questões de fragilidade mental foram superadas e sua atitude de recuperação foi louvável.
Antonelli - Boa surpresa esse italianinho destinado a grandes coisas no futuro. Protegido de Toto Wolf, Kimi teve um começo auspicioso, uma certa queda de rendimento no final da fase européia, mas recuperou seu brilho de algumas etapas para cá e vem mostrando que é o futuro da Mercedes. Com a tenra idade de 19 anos, segurar as investidas de um inspirado tetra campeão com sucesso não é para qualquer um. Duas excelentes corridas no templo Interlagos!
Max - Muito já se escreveu sobre esse verdadeiro fenômeno. Goste-se ou não do holandês nascido na Bélgica, com conexões tupiniquins, o cara é fora da curva. No ano passado já havia feito corrida memorável, largando lá atrás (16º) e vencendo, ajudado pela chuva que lhe favorece o talento. Este ano largou do pit lane e chegou em terceiro, que poderia ter facilmente sido um segundo, não houvesse um inspirado bambino a defender-se ferrenhamente.
Russell- Boas atuações, parece estar um tanto incomodado pela recente forma de seu jovem companheiro de equipe, Antonelli. Considero Russell um grande piloto, inclusive tem duas vitórias nessa temporada, mas prevejo uma certa tensão entre os pilotos Mercedes em função do mesmo problema que afeta hoje a Mclaren e tantas outras esquadras no passado: quem é o primeiro piloto? Por enquanto a Mercedes aposta na experiencia de George, mas isso pode mudar, pois é fato que Toto nutre um carinho quase paterno por Kimi.
Piastri- Oscar, Oscar, Oscar... o que houve meu camarada? Até há pouquíssimas rodadas o título mundial parecia ser apenas uma questão de tempo, uma merda formalidade. De repente, o bolo desandou, arruinou, a coisa está feia. Em minha modestíssima opinião, parece claro para o grupo Mclaren que o título seria melhor, em termos comerciais, de investimento, ligações de bastidores nas mãos de um piloto britânico, campeão das redes sociais, queridinho do jet set e que vem remando faz tempo pela equipe. Oscar parecia ser o mais equilibrado dos dois, com uma atitude quase blasé quando vencia e dominava, típico, talvez dos australianos. De Monza para cá parece ter perdido a boa forma e sua atitude despondente após a prova de Interlagos não poderia ser mais reveladora.
Ollie- Todos os méritos para esse jovem prodígio que vem extraindo um desempenho extraordinário da sua modesta monta, a Haas. Sem ter tido uma carreira expressiva na Formula 2 do ano passado, inclusive tendo sido companheiro de esquadra de Antonelli, sua ascensão à máxima foi encarada com certas reservas por muitos (novamente me incluo nesse inglório rol de céticos). Mas o garoto vem fazendo corridas de gente grande ao longo do ano e é certamente uma certeza para o futuro. A Ferrari que o vem nutrindo há tempos está com bons cacifes em mãos (e eu me atrevo a dizer que também há um certo pernambucaninho na mira dos Rossos, Rafa Câmara - falou aqui o torcedor e também alguém que já se acostumou a diagnosticar talentos precoces).
Lawson- Liam é um daqueles pilotos, não sei exatamente por que razão, que mesmo que ganhe o mundial invicto duas vezes ainda terá críticos e pessoas céticas em relação ao seu talento. Uma mente mais frágil, após ser humilhado e rebaixado da equipe principal da Red Bull no inicio do ano, após apenas duas rodadas, teria se encolhido e sumido. Mas Lawson não se deixou intimidar e, apesar de ter um companheiro de equipe talentoso em Issac Hadjar, vem fazendo seu trabalho de forma honesta e digna. Ainda assim, há muitos que cravam que ele não permanecerá na Formula 1 na temporada de 2026, o que, em minha opinião seria injusto.
Hadjar- Sem dúvidas, uma das grandes revelações do ano, especialmente por achar que ele era espaventado e esquentado, a medir por sua temporada na F 2 no ano passado, onde cometeu muitos erros de precipitação. Foi amplamente batido pelo nosso Bortoleto e eu achava que sua promoção havia sido errônea. Confesso que devo me retratar, pois provou que merece seu lugar e tem inclusive, em sua temporada de estreia um pódio! Em Interlagos, no entanto, mostrou certa dificuldade de adaptação as ondulações da pista e foi batido pelo companheiro de equipe, Lawson. Ainda tem crédito, no entanto.
Hulkenberg- Um veterano casca grossa que se renova a cada ano e encara o oficio de piloto de Formula 1 com muito profissionalismo e seriedade, além da óbvia competência. Nico fez sólida corrida e é um dos responsáveis pelo sensível melhora da equipe Sauber em relação ao ano passado.
Gasly- o simpático bretão, é sem dúvida um daqueles casos em que ficamos na dúvida: e se ele tivesse um carro de ponta nas mãos? Sempre extraindo o máximo de seu equipamento, Pierre é um piloto sólido e confiável. Beliscou dois pontinhos impossíveis em Interlagos, minimizando o calvário da equipe do cafajeste Briatore.
Dos demais, destaques negativos para os pilotos Ferrari (pobre Leclerc), um Ocon meio perdido, um pobre Tsunoda, Albon e Sainz perdidos nas equivocadas estratégias da equipe Williams, um Alonso combativo e como sempre, remando, remando, para morrer afogado na praia, um Stroll, Stroll, e por fim, o nosso Gabriel Bortoleto. Se eu acreditasse em bruxarias, mandingas ou coisas do tipo, sem dúvida essa seria a ocasião perfeita para confirmar minhas crenças. A maldição das péssimas estréias dos pilotos brasileiros correndo em casa pela primeira vez (com a notável exceção de Emerson que venceu em 73) se confirmou. Gabriel é bom piloto, ainda que eu não anteveja nele o messias, o próximo Senna ou Piquet. Seguro, veloz, interessado em aprender os meandros técnicos, vem fazendo uma temporada razoável. Mas sua atuação em Interlagos, em frente ao público sedento por um novo ídolo foi realmente muito sofrível. Quem faltou? Ah, sim, o Franco Colapinto. Acho o simpático argentino um bom piloto, mas até o momento apenas consigo vê-lo como um pay driver que só segura o seu lugar em virtude da verba que traz para a combalida equipe Alpine. Motivo de muito oba oba por parte dos passionais torcedores argentinos, Franco está devendo e muito. Como renovou seu contrato para o ano que vem, imaginei que estaria mais sereno, mas me enganei: cometeu os mesmos erros de afobação que prejudicam suas atuações quase sempre. Oxalá consiga acertar sua cabeça, pois velocidade ele tem de sobra.
De qualquer maneira, Interlagos proporcionou, como sempre, uma das melhores etapas do mundial e agora, na reta final, onde só falta carimbar o certificado de campeão para Norris, uma surpresa seria uma tardia reação de Piastri, aparentemente cabisbaixo e vencido pelo peso de ser um solitário contra um sistema. Poucos conseguiram reverter a preferencia tão nítida de uma equipe por um outro companheiro, não é mesmo Nelson Piquet? Esse sim, contra tudo e quase todos, conseguiu. Oxalá Piastri me surpreenda positivamente! E nunca descartem Max...


