segunda-feira, 4 de março de 2024
segunda-feira, 14 de novembro de 2022
Quando caem as máscaras
Não importa o que eu ou você pensemos,
ou achamos, ou lacramos. Fatos, e isso é elementar, meu caro Watson! E os fatos
a que me refiro: Lewis Hamilton ainda é o melhor piloto em atividade, apesar da
recente forma “rolo compressor” de Max Verstappen. Eu me refiro ao pacote
completo: currículo, trajetória, caráter. Obviamente já critiquei Hamilton no
passado por alguns posicionamentos extra pista, sempre deixando claro que minha
opinião é subjetiva e ele é grandinho e, portanto, responsável por seus atos e declarações.
Também já o critiquei em alguns entreveros em pista, notadamente Silverstone
2021, onde acho que ele se excedeu. Também critiquei uma certa benevolência dos
fiscais e dirigentes em relação às punições mais brandas aplicadas a ele em
comparação.
Agora ontem, ele teve uma
atuação e uma postura digna de um campeão. Recebido com festa (justificada) no
nosso país como um grande campeão (o que de fato é), portou-se com galhardia
fora e dentro da pista. Se fora dela, mostrou paciência e solicitude com seus
muitos fãs, dentro dela, ao “comboiar” seu jovem companheiro de equipe naquilo
que seria a primeira vitória da equipe no ano (e com dobradinha para coroar o
final de semana), mostrou comedimento e generosidade ímpares. E olha que
estamos falando de vitória, que lhe ilude há mais de um ano, fato inédito em
sua incrível carreira.
Indesculpável, portanto, a atitude
egoísta e grosseira do mimado holandês Verstappen, que ao não pensar na equipe
deixou seu companheiro Sergio Perez atrás de si na disputa de um glorioso (!!)
sexto lugar, mas que representaria um pontinho a mais para o mexicano na
renhida disputa pelo vice-campeonato com o monegasco Leclerc da Ferrari. A
equipe Red Bull jamais logrou fazer um campeão mundial e um vice na mesma
temporada e essa seria a coroação perfeita da temporada. Quais as razões que
fazem um piloto declinar ajuda a um companheiro de equipe, que tanto o ajudou
no passado, diga-se de passagem, e que já tem o campeonato fechado e lacrado
para si? Não tenho resposta a essa questão.
Faço paralelos a alguns
pilotos que assisti e que não faziam questão de serem simpáticos com o publico
e com seus companheiros de equipe. Descontando-se a natural tendência ao egoísmo
extremo que faz parte do DNA de quase todos os campeões, lembro-me da semisselvagem
disputa em Senna e Prost, companheiros de equipe, mas disputando o título prova
a prova, roda a roda. E a infeliz política de “boa vizinhança” promovida pela
Williams em 86 e 87, que resultou da perda de um campeonato certo e líquido por
ambos os pilotos, Piquet e Mansell que preferiram se destruir nas pistas
favorecendo um narigudo e sagaz Prost da McLaren. Mas, novamente, ambos estavam
disputando o título. E, claro, lembro-me
da infeliz temporada de 1973 onde Emerson Fittipaldi ganhou três das quatro
primeiras provas, e depois a equipe privilegiou seu talentoso e rápido
companheiro Ronnie Peterson, jogando o título de pilotos no colo de Jackie Stewart.
Nesse caso, foi burrice de Colin Chapman que não soube valorizar seu campeão
mundial e claramente, investiu errado, perdendo o furioso piloto brasileiro que
se mudou de mala e cuia para a McLaren para vencer ali o primeiro dos muitos
títulos da escuderia.
Tivemos os casos da Ferrari
onde sua majestade Michael Schumacher sempre esmagava esportiva e politicamente
seus segundos pilotos (Irvine, Barrichello e mesmo Masssa), escolhidos a dedo
para serem escudeiros. Caso aliás, parecido com o de Checo Perez, que ninguém levou
a sério após a corrida de Mônaco este ano, vencida por ele que declarou estar
na “disputa” pelo título. Todos sabíamos que Verstappen era mais talentoso,
mais importante para a equipe, incontestável número 1 e o brilhareco do simpático
mexicano não passaria de um “flash in the pan”, como dizem os ingleses. Mesmo assim,
com um carro foguete nas mãos, algumas boas atuações, uma Ferrari pateticamente
errática, os problemas da Mercedes, fizeram com que a Red Bull tivesse chances
reais de cravar campeão e vice. Sem stress. Exceto pelo ego gigantesco de nosso
amigo dos países (e golpes) baixos.
Veremos a conclusão dessa
novela inacabada daqui a menos de duas semanas no encerramento do campeonato em
Abu Dhabi. De qualquer forma, a meus humildes olhos de ancião, Hamilton saiu
grande e Verstappen minúsculo de Interlagos!